No jantar-comício do Bloco em Coimbra, o historiador e cabeça de lista pelo distrito defendeu que é "confrontando o PS com as suas limitações que podemos avançar". A jurista e ativista Mariana Rodrigues, segunda candidata bloquista, apontou os baixos salários e o "sufoco das rendas" como os grandes incentivos da maioria absoluta à emigração da sua geração.
No seu discurso no jantar-comício deste sábado em Coimbra, o historiador e candidato bloquista Miguel Cardina começou por lembrar os entendimentos à esquerda que resultaram da necessidade de travar o "programa de regressão e empobrecimento" levado a cabo pela direita. "A geringonça é fruto disso e é hoje a experiência política com maior taxa de aprovação popular. Mas 2024 não é 2015", avisou.
Agora, "trata-se de avançar diante do bloqueio e da instabilidade trazida pela maioria absoluta", respondendo pelos serviços públicos na saúde e educação, pelas cidades em que se possa morar, pelo combate à pobreza e aos baixos salários, pela resposta à crise climática.
Mas isso não impede que se tirem "ensinamentos" da eleição de 2015, como o de que "as eleições legislativas não servem para eleger primeiros-ministros", mas para determinar quem são os 230 deputados. Outra lição é que "as mudanças à esquerda se fazem com mobilização, diálogo e compromisso" e que "ontem como hoje, é confrontando o PS com as suas limitações que podemos avançar", pois em 2015 "foi apesar do programa do PS que foi possível recuperar direitos e rendimentos".
O terceiro ensinamento de 2015 é que os programas "só se concretizam se tivermos força política para tal", pelo que não basta ter boas ideias, sendo necessário "congregar vontades coletivas" em torno delas, o que espera conseguir nesta campanha eleitoral.
"Cumprimo-nos quando conjugamos ideias fortes e vontades coletivas. Não nos espera menos do que isto daqui até ao próximo dia 10 de março", concluiu Miguel Cardina.
Mariana Rodrigues: "Crise da habitação violenta, em particular, quem se vê desprovido de uma rede de apoio"
A segunda candidata na lista do Bloco por Coimbra, Mariana Rodrigues, também interveio neste jantar comício. A jurista e ativista pelo direito à habitação disse pertencer a uma geração "para a qual um país sem o Bloco de Esquerda é apenas uma memória herdada de alguém", a geração que ainda era criança em 2007, "quando as feministas aqui presentes, e tantas outras, fizeram o dito-impossível realidade" e permitiram a essa geração crescer sem "a assombração da perseguição judicial ou o medo constante de morrer à mão de um aborto clandestino". E que já na pré-adolescência assistiu, "pela mão do Bloco" ao país a avançar nos direitos LGBT.
"Hoje, não nos esquecemos que a crise da habitação violenta, em particular, quem se vê desprovido de uma rede de apoio", como as pessoas LGBT e em especial as pessoas trans jovens, que "são as que têm maior risco de ser expulsas da sua casa". Mariana Rodrigues lembrou que "além de propostas corajosas que combatam a especulação imobiliária, baixem as rendas e baixem os juros da habitação, o Bloco quer criar também um projeto nacional para pessoas trans em situação de sem abrigo, porque nunca deixará ninguém para trás".
Lembrou em seguida que hoje em dia, as políticas da maioria absoluta voltaram a empurrar esta geração para a emigração. "Querem-nos convencer que saímos por causa do peso do Estado e dos impostos, mas nós sabemos que é a perpetuação de políticas de baixos salários, onde 10% dos trabalhadores estão numa situação de pobreza, uma economia assente em setores de baixo valor acrescentado, e um sufoco pelos preços da renda e da casa que nos fazem abandonar", prosseguiu a candidata, concluindo que é com o Bloco, "um partido sem senhores nem feudos, que acarinha e cuida da diferença e que está ao lado de quem precisa", que esta geração pode conquistar o aumento de salários, a redução do horário de trabalho, mais qualidade nos serviços públicos, igualdade e justiça climática.