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Memórias: Ricardo Rangel

No dia 11 de junho de 2009, morreu Ricardo Rangel. Foi um fotojornalista e fotógrafo moçambicano. No final dos anos 40, iniciou as primeiras denúncias contra a situação colonial. Enquanto fotografava a cidade dos colonos, Rangel revelava a desumanidade e a crueldade do colonialismo. Por António José André.

Ricardo Achiles Rangel, nasceu a 15 de fevereiro de 1924, em Lourenço Marques (atual Maputo). Descendente de uma família proveniente de gregos, africanos e chineses, cresceu na casa da sua avó situada nos subúrbios da cidade e visitava regularmente os pais.

Em 1941, Ricardo Rangel começou a carreira como aprendiz de fotógrafo no laboratório de Otílio Vasconcelos, o que lhe despertou interesse pela fotografia. Em meados dos anos 40,  trabalhou no laboratório Focus, onde ficou conhecido como impressor de preto e branco. 

Em 1952, Ricardo Rangel foi o primeiro repórter fotográfico africano a entrar para o "Notícias da Tarde". Em 1956, foi para o "Jornal de Moçambique" e depois para o "Notícias. Entre 1960 e 1964, foi fotógrafo-chefe do semanário "A Tribuna", que abandonou por razões ideológicas. 

Em 1964, Ricardo Rangel mudou-se para a cidade da Beira, onde trabalhou como fotógrafo para vários jornais; "Diário de Moçambique", "Voz Africana" e "Notícias da Beira". No final dos anos 60, regressou a Lourenço Marques e voltou para o "Notícias".

Em 1970, Ricardo Rangel juntou-se a quatro jornalistas moçambicanos para fundar um semanário "O Tempo": única publicação de oposição ao governo colonial. Era fotógrafo-chefe e documentava muitas vezes a pobreza e a política colonial. 

Muitas fotografias suas foram proibidas ou destruídas pelos censores do Governo Português e não puderam ser publicadas ou exibidas até à independência de Moçambique, em 1975. Rangel foi alvo frequente da PIDE. 

Em 1975, após a independência de Moçambique, Ricardo Rangel teve um papel ativo na formação de novos fotógrafos moçambicanos. Em 1977, foi nomeado chefe dos fotógrafos do "Notícias", após a maioria dos fotojornalistas terem deixado o país. 

Em 1981, Ricardo Rangel foi o primeiro diretor do semanário "Domingo". Em 1983, fundou o Centro de Formação (Escola de Fotografia), em Maputo, sendo seu diretor até a morte, em 2009. A partir de 1983, mostrou os seus trabalhos em exposições, publicações e museus da Europa e África. 

Ricardo Rangel também fundou a Associação Fotográfica Moçambicana. Em 2008, recebeu da Universidade Eduardo Mondlane um doutoramento honorário em Ciências Sociais "pela contribuição para a cultura moçambicana".

Entre 1998 e 2003, Ricardo Rangel foi deputado eleito pelo grupo de "Cidadãos Juntos Pela Cidade" na Assembleia Municipal de Maputo. 

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