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Memórias: Catarina Eufémia

No dia 19 de maio de 1954, morreu Catarina Eufémia, quando protestava contra a miséria, assassinada a tiro por um tenente da GNR. Catarina Eufémia é um ícone da resistência contra o salazarismo. Por António José André.

Filha de camponeses sem terra, Catarina Eufémia nasceu a 13 de fevereiro de 1928, em Baleizão (aldeia do Alentejo). Os pais trabalhavam num latifúndio e Catarina trabalhava em casa. Nem sequer teve tempo ara ir à escola.

Catarina Eufémia começou a trabalhar nos latifúndios, durante a adolescência, e aprendeu tudo sobre o trabalho no campo, da sementeira à ceifa. Aos 17 anos, casou-se com António Joaquim (operário da CUF) e foi viver para o Barreiro.

Mais tarde, António Joaquim foi dispensado da CUF e o casal regressou a Baleizão. António Joaquim conseguiu emprego de cantoneiro, em Quintos. Mas o seu salário não chegava para sustentar a família e Catarina voltou a trabalhar nos latifúndios.

No dia 19 de maio de 1954, Catarina Eufémia liderou um grupo de 14 ceifeiras que exigiam o aumento de 2 escudos por jorna diária. Na herdade do Olival, o grupo foi cercado por soldados da GNR e o tenente Carrajola matou Catarina.

Durante o funeral de Catarina Eufémia, a GNR dispersou à bastonada a multidão que protestava contra a sua morte. No tumulto, 9 camponeses foram presos. Depois foram julgados e condenados a 2 anos de prisão.

Para evitar romarias subversivas, por ordem da GNR, o corpo de Catarina não foi sepultado em Baleizão, mas em Quintos. Em 1974, depois da Revolução dos Cravos, os restos mortais de Catarina foram transladados de Quintos para Baleizão.

Nota: o tenente Carrajola não foi a tribunal, nem sequer foi castigado. Foi apenas transferido de Baleizão para Aljustrel, onde morreu, em 1964 (de morte natural).

Sophia de Mello Breyner, Eduardo Valente da Fonseca, Francisco Miguel Duarte, José Carlos Ary dos Santos, entre outros/as, dedicaram-lhe poemas.