No dia 20 de julho de 2004, morreu Antonio Gades. Foi um bailarino e coreógrafo espanhol: a expressão máxima do flamenco. Por António José André
Antonio Gades nasceu, em Elda (Alicante), a 14 de novembro de 1936. O seu pai não estava presente, quando nasceu, pois tinha ido lutar contra as forças de Franco em Madrid..
A família foi viver para a capital. Aos 11 anos, Gades começou a trabalhar: à noite, numa tipografia e, ao amanhecer, entregava fruta. Foi pugilista, toureiro e ciclista.
Quando adolescente, a sua mãe inscreveu-o numa escola de dança flamenca. Um dia a professora, coreógrafa e bailarina, Pilar López, descobriu as suas qualidades.
Pilar López ensinou-o a vestir-se, a gostar de literatura, a conhecer o flamenco e as diferentes musicalidades de Espanha. Entre uma e outra etapa, lia García Lorca e assim cresceu a sua consciência política semeada pelo pai, pedreiro.
Em 1969, Gades coreografou "O amor bruxo" e viajou por vários países. Em 1978, criou o Ballet Nacional Español, que dirigiu durante 3 anos, até sentir que lhe queriam erguer barreiras.
Então, partiu para formar a sua empresa, pois entre os seus lemas estava a liberdade de criar e de fazer. A sua trupe, com cerca de 40 profissionais, não era subsidiada.
Depois da morte de Franco, em Novembro de 1975, a "Transição" começou, em Espanha, e abriram-se janelas políticas e culturais. Então, todos sabiam o que muitos sabiam: o seu pensamento marxista e o seu apoio à independência da Catalunha.
Gades aderiu ao Partido Comunista dos Povos de Espanha e tornou-se membro do Comité Central até morrer. Com a atriz e cantora, Pepa Flores (conhecida como Marisol), participou nas mobilizações contra a NATO e no apoio às lutas sindicais e sociais.
Nos anos 80, sob a direção do realizador Carlos Saura, dirigiu a trilogia "Bodas de Sangue" (1981), "Carmen" (1983) e "O amor bruxo" (1986). A sua última produção como coreógrafo foi, em 1994, "Fuenteovejuna", uma adatação da peça de Lope de Vega.
Enfrentou todo o tipo de batalhas até que um cancro o impediu de realizar um dos seus sonhos: coreografar "Dom Quixote". Antonio Gades morreu, em Madrid, a 20 de julho de 2004, com 67 anos de idade.
Foi cremado e, para surpresa geral, como tinha solicitado, apenas membros do corpo diplomático da embaixada cubana puderam assistir. No dia 22/7, as suas cinzas partiram para Havana. Gades dissera a um jornalista, em 2003: "Cuba é o porto da minha vida".