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Quer o Governo extinguir a Cultura em Coimbra?

Quer o Governo extinguir a Cultura em Coimbra?

São sobejamente conhecidas – e têm sido amplamente denunciadas – as profundas dificuldades atravessadas pelos/as agentes culturais dos vários setores da produção e criação artística em todo o território nacional. Estas devem-se, principalmente, a um desinvestimento muito profundo, a uma completa falta de estratégia e à total ausência de empenhamento político da parte do atual governo. Ainda antes de produzir resultados, a falta de clareza, a incompetência e os atrasos do Programa de Apoio Sustentado às Artes 2018-2021 da DGArtes foram objeto de críticas acesas e legítimas, pois sem apoio governamental, várias estruturas culturais com amplas provas dadas e décadas de atividade em vários locais do país, ou fecharam portas por total insustentabilidade ou foram remetidas para situações de profunda precariedade, nas quais a sobrevivência se conseguia apenas por via do sacrifício dos/as profissionais e criadores/as.

Não são ainda públicas as decisões definitivas da DGArtes para o Teatro no âmbito do referido programa. Contudo, é já sabido que nenhuma das companhias de Teatro profissionais de Coimbra – O Teatrão e A Escola da Noite – serão contempladas, o que, na prática, corresponde à sua extinção. Acresce, na área das Artes Visuais, a exclusão, igualmente, do Centro de Artes Visuais. Todas estas estruturas exercem, em Coimbra e na região centro, um papel fundamental e insubstituível, com uma qualidade inegável, sustentada em anos de experiência reconhecida nacional e internacionalmente. São responsáveis pela gestão de equipamentos municipais e desenvolvem uma programação alargada, que abrange vários tipos de público, nomeadamente o público escolar, garantindo amplas opções para a fruição e a formação cultural dos/as cidadãos/ãs de Coimbra e uma dinâmica intensa em vários domínios artísticos. Nada justifica a sua exclusão de um programa, cujo objetivo deve ser garantir o direito à cultura, constitucionalmente consagrado, através dos apoios indispensáveis à realização do serviço público que prestam os/as agentes culturais. É a obrigação mínima de um Ministério da Cultura digno desse nome assegurar condições para a criação artística, a fruição e a formação cultural, de forma justa, equilibrada e descentralizada.

Coimbra já se habituou a assistir à incúria do poder local em relação a estes agentes culturais, a quem tanto deve. Ouviu, há umas semanas, a Diretora Regional da Cultura do Centro afirmar o quanto se sente “incomodada” pelos agentes culturais que, legitimamente, procuram apoios para exercer a sua profissão em benefício da comunidade. Coimbra recusa, agora, liminarmente, o abandono total por parte do governo nacional, cuja política parece ser, não a de impulso da produção e criação artística, mas o seu aniquilamento. Acabar com o Teatrão, A Escola da Noite e o Centro de Artes Visuais é amputar Coimbra de uma parte enorme e insubstituível da sua criação e programação cultural e do seu património artístico. Coimbra não vive sem O Teatrão, A Escola da Noite e o Centro de Artes Visuais. O BE manifesta o seu total repúdio a estas decisões inadmissíveis, que representarão, para a cidade e para a região, um prejuízo incalculável e um dano irreparável. O BE manifesta ainda a sua mais profunda solidariedade para com os agentes culturais afetados, a quem agradece por décadas da maior dedicação à cultura em Coimbra.

Coimbra, 30 de março de 2018

Concelhia do Bloco de Esquerda de Coimbra