Mais importante do que aquilo que cada individuo pode fazer para mitigar a pandemia, é o que a humanidade no seu conjunto poderia fazer para combater a pandemia. Justamente, como se trata de uma pandemia, os esforços a nível global deveriam ser tão ou mais importantes do que se exige ao nível individual e local. Tenhamos em mente que durante os confinamentos há gente que tudo sacrifica, a própria subsistência, o seu emprego. Quando nos anos 60 se decidiu colocar um homem na Lua, envolveram-se 400 mil pessoas no programa Apollo, investiram-se milhares de milhões e numa década realizou-se o impensável. Perante um problema tão grave como a Covid estamos num nível de esforço e investimento bem abaixo do Programa Apollo. As instâncias internacionais poderiam fazer muito mais do que estão a fazer, mas sabemos que em grande medida a culpa resulta de dirigentes nacionais e de políticas nacionais que assentam em ilusões de que a pandemia se resolve em cada cantinho. Tudo se tem resumido à corrida a uma vacina por alguns institutos e farmacêuticas, quando não é sequer garantido que uma vacina possa garantir imunidade por um período suficientemente eficaz para erradicar a Covid.
À minha escala tento privilegiar a intervenção coletiva, através do meu ativismo político, onde vamos tentando intervir na área do emprego e da habitação, ou através da minha profissão, participando na disseminação de conhecimento científico, transmitindo como funciona a ciência, um bem essencial em tempos de pandemia, ou ainda apoiando o meu sindicato, cujo trabalho tem sido precioso para evitar a destruição do tecido de científico em Portugal.
À escala mais curta da minha bolha, sigo as recomendações nacionais e internacionais, como a grande maioria das pessoas. No entanto, tenho canalizado o meu voluntarismo para a divulgação de informação científica fidedigna nas redes sociais, bem como combatendo a pseudociência, as mentiras e o conspiracionismo que têm sido propagados por grupos de charlatães como os médicos pela verdade ou o partido de André Ventura.
Publicado no "Diário as Beiras" - 12 de Novembro de 2020