Graças à minha atividade profissional, tive a oportunidade de conhecer outras latitudes, de passar por lugares onde o edifício mais antigo tinha cerca de 100 anos, o que não impede os locais de explorar ao máximo as potencialidades turísticas dessa antiguidade, ao ponto de fazer sorrir qualquer visitante do velho continente. Se pudessem, pagariam bem para ter os edifícios tão antigos como os nossos, mesmo considerando que a própria Figueira da Foz é uma cidade relativamente nova no panorama nacional. Mas infelizmente tanto ao nível local, como ao nível regional a visão é a mesma. Há mais tendência para encher o olho com promessas irrealistas, de proclamar a construção de novos aeroportos, do que valorizar o património natural, histórico e humano existente.
Na linha de alguns bons exemplos recentes de reabilitação de habitação no centro histórico ou da reconversão do Antigo Posto Fiscal de Quiaios ao abrigo do programa Revive Natureza, a Figueira tem todo o interesse em traçar um amplo plano de reabilitação de imóveis.
Essa reabilitação deve contemplar as boas práticas de arquitetura, a eficiência energética e no caso dos edifícios públicos, deve oferecer soluções de acessibilidade a pessoas de mobilidade reduzida. Tal plano estaria em fase com os objetivos da transição energética (8% das emissões de dióxido de carbono são produzidas pelos edifícios) das políticas europeias contempladas pelo Fundo de Recuperação da UE (a chamada bazuca europeia) e contribuiria a médio e a longo prazo para a economia do concelho. Permitiria também apostar em emprego qualificado para implementar essa transição energética em edifícios antigos que necessitam de soluções engenhosas e inovadoras.
O edifício da câmara, tal como os restantes edifícios públicos, poderia integrar esse plano e beneficiar de uma modernização dos espaços interiores, apostando na eficiência e na economia energética. Edifícios antigos equipados com soluções modernas amigas do ambiente representaria a melhor passagem de testemunho entre o legado das gerações passadas e as gerações vindouras.
Publicado no Diario as Beiras - 29 de abril de 2021