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A Rentrée Literária

A rentrée literária francesa é um dos acontecimentos culturais mais estimulantes que conheço. A edição francesa é muito mais ampla que outras edições que acompanho: a americana, a britânica e a italiana.

É mais cosmopolita, englobando o melhor e o pior da literatura anglo-saxónica, a literatura europeia – entre os quais vários autores portugueses, como o nosso Nuno Camarneiro - mas sobretudo publica os melhores autores africanos e asiáticos.

Talvez o seu ponto fraco seja a literatura latino-americana, melhor representada na edição italiana. Mas o mais estimulante é a intensidade do debate literário em torno das novas obras da rentrée, sobretudo os ensaios políticos e de jornalismo de investigação. Essa intensidade e profundidade no debate não a encontro nas outras rentrées, exceto parcialmente em Itália, em temas particulares da sua história recente: o fascismo, as brigadas vermelhas ou a máfia.

A nossa rentrée promete. Destaco “Galveias”, de José Luís Peixoto; “Alabardas”, edição póstuma de José Saramago; e “O capital no século XXI”, de Thomas Piketty. Parte inicial da obra de Piketty pode ser lida na revista Ler deste mês. Ainda na Ler, somos brindados com uma entrevista de Afonso Cruz, que revela uma personagem interessantíssima, aquela que foi outrora um menino fascinado pela fotografia que viveu até aos cinco anos na Figueira e depois se fez destemidamente ao mundo.