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Qual é a principal qualidade dos figueirenses?

Evitando exercícios de psicologia barata, destacaria o melhor que desperta nos figueirenses esta grande janela que se estende em frente à cidade, este oceano que vai até à Terra Nova ou até outras praias onde se deslizam pranchas em ondas revoltas. A universalidade - a qualidade que aqui destaco - de alguns dos nossos conterrâneos sempre me serviu de exemplo de vida. 

Essa universalidade foi-me revelada quer por aqueles que tiveram que se fazer ao mar por necessidade, como os meus familiares que andaram na pesca do bacalhau, quer através de todos os outros que forjaram o seu próprio percurso de vida, resolvendo ir procurar o que havia para lá das ondas.

Recordo-me em especial da forma como os meus familiares me descreviam a Terra Nova. Viviam na sua comunidade muito conservadora, mas curiosamente relatavam com um brilhozinho nos olhos histórias daquela terra onde havia outro nível de vida e onde havia “outra mentalidade”. 

Percebia-se que eles homens a quem a vida os afastou dos estudos muito cedo tinham aprendido na escola da vida uma visão do mundo mais universal. Aprenderam a trazer ideias de lá para cá que nos enriqueciam a todos. 

Mais fáceis, mas não menos valorosas foram as viagens daqueles que saíram da Figueira à boleia de camião para ir apanhar fruta para França ou apenas para ir surfar outras ondas, só para saber como era aquilo por lá. Todos eles ajudaram à sua maneira a amplificar a maturidade da nossa cidade.

Pubicado no Diario as Beiras - 1 de setembro de 2022