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Qual debate?

Nas últimas duas décadas vários órgãos de comunicação social do concelho foram fechando portas, outros reduziram a atividade e outros foram despedindo profissionais. As oportunidades de debate público diminuíram e resumem-se praticamente às reuniões de câmara e às assembleias municipal e de freguesia.

Recordo-me de campanhas eleitorais, em que determinadas ações de campanha eram seguidas por mais jornalistas do que ativistas políticos. A Figueira chegou a ter simultaneamente uma rádio e vários jornais que providenciavam uma cobertura razoável noticiosa com jornalistas de terreno que gerava boas oportunidades de debate dos assuntos locais. Mas desde então tem-se generalizado a tendência para fazer jornalismo sem jornalistas. As oportunidades de debate público enquadrado por bons profissionais da informação (no meu entender, a melhor forma de realizar fóruns de debate com qualidade) escasseiam e quando ocorrem são sempre os mesmos a organizar. Apesar de as redes sociais terem oferecido novas oportunidades de realizar e de popularizar a discussão pública de uma forma inclusivamente menos onerosa para os meios de comunicação, até hoje esses esforços não tiveram um alcance suficientemente abrangente.

Quando não existem fóruns de debate acessíveis e abrangentes, o que acaba por suceder é que as poucas notícias que conseguem ter alcance ou são fenómenos muito positivos mas muito raros (um prémio literário, uma vitória desportiva de âmbito nacional, etc.) ou são notícias negativas, que são as que se difundem mais facilmente, especialmente na era das redes sociais: corrupção, crimes, insultos, etc. E é neste ponto em que nos encontramos atualmente. Há dezenas de notícias com potencial para estimular debates interessantes na cidade, mas o que se discute nestes dias é um cartaz. O que é que eu acho de um líder de uma concelhia que teve a brilhante ideia de gastar largas centenas de euros num cartaz, em plena Covid, para tentar sacudir a água do capote de responsabilidades passadas de uma forma trapalhona? Se fosse membro dessa concelhia saberia bem o que fazer.

Publicado no "Diário as Beiras" - 24 de setembro  de 2020