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Piscina vs. Negócio

Aquando da sua construção em 1953, a Piscina-Mar, da autoria de Isaías Cardoso, casava na perfeição com o Grande Hotel da Figueira da Foz, assinado por Inácio Peres Fernandes e finalizado anteriormente em 1950. A concordância arquitetónica entre os dois edifícios não era apenas elegante, era igualmente orgânica. Os clientes do hotel eram também os clientes da piscina, existia uma fluidez entre os dois edifícios que assegurava uma simbiose natural na qual cada um ajudava a impulsionar o negócio do outro.

Com a venda do hotel ao Grupo Accor, quebrou-se esse elo. O Grande Hotel, depois Mercure, passou a seguir a estratégia da Accor e a Piscina-Mar seguiu o seu caminho, mudando sucessivamente de mãos, tendo sido inclusivamente gerida por um dos magnatas desta cidade, entretanto caído em desgraça após múltiplos escândalos financeiros. A estratégia de lucro fácil a curto prazo, teve as consequências que conhecemos hoje. O Grande Hotel vai-se aguentando. A Piscina-Mar tem andado aos trambolhões de concessão em concessão até a degradação atual. Como as sucessivas concessões não estabelecem qualquer elo com o Grande Hotel, naturalmente os candidatos à concessão para obterem lucros aliciantes exigem alterações ao desenho do complexo da Piscina-Mar que praticamente equivalem a construir um segundo hotel dentro do próprio complexo! Bem-vindos ao capitalismo moderno.

Teoricamente, a solução ideal seria restabelecer o elo entre a piscina e o hotel. Existem muitas formas de o realizar em que a câmara poderia servir de intermediária com os proprietários do Grande Hotel ou em alternativa assumir a piscina e estabelecer protocolos com o Grupo Accor que ajudem a restabelecer essa componente de simbiose entre os dois edifícios que já existiu no passado. Acautelando que, entretanto, passaram 70 anos e nem tudo o que era válido nos anos 50 funcionará em 2020, sobretudo quando o espetro da Covid ameaça não nos largar tão cedo.

Publicado no "Diário as Beiras" - 10 de setembro  de 2020