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Pela regionalização

A nossa Região Centro, tal como quase todas as outras regiões do continente, orienta-se por uma estratégia ao sabor do improviso, rege-se por processos de funcionamento pouco transparentes e insuficientemente divulgados entre os cidadãos. Tive o privilégio de estudar em países com regiões administrativas. Essa experiência convenceu-me que a não implementação das regiões administrativas em Portugal foi um erro cujo preço pagamos todos os dias. Se há força de bloqueio é precisamente esta, que se reflete na desorganização regional, na falta de estratégias e insuficiente debate sobre o futuro da região, com consequências negativas até ao nível concelhio.

Nesta coluna, já dei o exemplo da bizarria que é a Região Centro não ter uma ligação ferroviária a Lisboa por Alfa ou por Intercidades que permita a chegada à capital antes das 9:20. Isto é ilustrativo de uma região sem rei nem roque, de órgãos regionais e municipais alheados de aspetos fundamentais que contribuem para o dinamismo e o desenvolvimento de uma região. Em vez de se resolverem problemas basilares de acessibilidade da nossa região à capital e ao mundo, andámos a imaginar que as companhias aéreas viriam por aí a correr desejosas para aterrar avões na nossa região. Depois, um puxava o aeroporto para o seu quintal e outro para a sua base aérea. Num género de guerras muito miudinhas que revelam a falta de estratégia e a incapacidade dos autarcas para olhar para a região como um todo (recordo tem 1,7 milhões de habitantes e se estende do Atlântico até à fronteira com Espanha) e não apenas para o seu quintalzinho.

Esta é a organização (ou a falta dela) que temos e o executivo não se pode meramente lamentar de hipotéticos poderes regionais. No entanto, poderia e deveria reivindicar junto do governo central a resolução de problemas como o das ligações ferroviárias (ligação a Espanha, Linha do Oeste, ligação direta a Coimbra) ou como a erosão costeira, problemas sobre os quais existem documentos de âmbito nacional e ministerial com orientações claras que se encontram há demasiado tempo em suspenso.

Publicado no "Diário as Beiras" -  8 de outubro de 2020