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Outro 2030

Há três domínios em que gostaria de ver avanços profundos no concelho até à década de 2030. Sendo a Figueira um concelho fortemente industrializado, onde operam exportadoras de topo nacionais, seria um avanço civilizacional se a riqueza produzida por esta indústria se refletisse no nível de vida dos cidadãos. 

Não me parece próprio do século XXI que empresas de sucesso continuem a basear o seu modelo salarial em quadros auferem dividendos dezenas de vezes acima dos rendimentos dos trabalhadores de base. Pior ainda, é o modelo de recursos humanos baseado na subcontratação por empresas do mesmo grupo, onde os trabalhadores auferem salários mais baixos, possuem um vínculo precário e, algo que considero destrutivo, perdem o vínculo direto com a empresa onde trabalham. Esta relação laboral que coloca o trabalhador fora da esfera da empresa trabalhando lá dentro, que o exclui formalmente de projetos de sucesso trabalhando para eles, dá uma machadada no vínculo do trabalhador com a sociedade, deixando-o à mercê dos piores populismos identitários.

Um segundo domínio em que a Figueira pode e deve progredir é o domínio da arquitetura urbana e dos espaços naturais. Um concelho com legítimas aspirações turísticas não pode continuar a insistir na fórmula da betonização ao serviço dos negócios imobiliários (ondem se inclui a construção desenfreada de supermercados). A boa arquitetura tem de voltar à ordem do dia, bem como a reabilitação dos imóveis que contam a nossa história. O bom e harmonioso ordenamento do espaço urbano e natural deverá ser uma prioridade: o rio, a serra, as salinas, as árvores, os passeios, vias para a mobilidade suave, etc. 

Finalmente, a Figueira poderia dar o seu contributo para um dos maiores desafios do sec. XXI que é o combate às alterações climáticas, ajudando à transição energética. Um belo desígnio seria a Figueira atrair projetos, empresas, polos de conhecimento e investigadores ligados à produção da energia das ondas, das marés e dos ventos. A Figueira tem toda esta energia em abundância. É só preciso vontade para a colocar ao serviço de todos.

Publicado no "Diário as Beiras" -  21 de janeiro de 2021