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Ocupação

Nos últimos dois anos, houve quem duvidasse que Portugal estivesse mesmo sob ocupação da Troika. Exagero de análise ou exagero de linguagem, foi-nos dito, sobretudo por quem defende que este é o caminho. Quando, por duas vezes, as ruas de Portugal ficaram a rebentar pelas costuras, com milhares e milhares de pessoas a pedir que a Troika deixasse Portugal, logo vieram os que repetem que eles são nossos amigos. Hoje, apesar de todas as evidências, há quem continue a insistir que não podemos viver sem a Troika. Se dúvidas houvesse, foram dissipadas quando se percebeu que nem Paulo Portas teve capacidade de se demitir.

O que se tem passado à frente dos nossos olhos é escandaloso. Num cenário democrático, quando um ministro, presidente do partido da coligação, pede demissão "irrevogável", isso significa que o governo cai e que há eleições. No entanto, num país ocupado como Portugal, assim não foi. O primeiro-ministro foi a Berlim pedir orientações, o Presidente da República deu uma mãozinha e percebeu-se, mais uma vez, o tamanho poder da Troika, do mundo da finança e dos mercados por via dos seus lacaios.

O horror às eleições é a política oficial da Troika e da União Europeia e percebe-se. As eleições são neste momento o único instrumento que poderia permitir libertar Portugal da austeridade e recuperar a soberania. Digo "poderia" porque em democracia é assim mesmo, o resultado está em aberto. A luta pela democracia tornou-se, por isso, cada vez mais central nas nossas vidas. Dela tudo depende neste momento em Portugal, e a cada dia que passa está-nos a ser negada.

Passos Coelho dizia há alguns dias que não poderíamos ter eleições antecipadas porque elas "antecipam a incerteza". Para além de tudo o resto, é preciso ter lata. Um momento em que não se sabe bem qual é o governo ou quem são os ministros em exercício não é propriamente um cenário de "certeza". No entanto, como o significado das palavras é mais fundo, sabemos muito bem o que Passos Coelho quis dizer. Devolver a palavra ao povo é colocar a pôr em causa a continuidade da obediência à Troika e aos mercados, essa sim a única certeza que o governo tenta preservar nos tempos que correm.

As Beiras,  20 de Julho de 2013