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O sucídio das touradas

Quando alguns amigos ativistas me questionam sobre o que mais será necessário fazer para acabar com as touradas, a minha resposta é: nada. As touradas estão moribundas. Quem assistiu às grandes noites tauromáquicas transmitidas este ano pela tv contou meia dúzia de gatos pingados nas bancadas.

Curiosamente, entre esse público, é cada vez maior a proporção de betos, como se a tourada fosse o último reduto da identidade cultural dos betos. Contam-se pelos dedos de uma mão os jovens que conheço com menos de 25 anos que gostam de touradas.

Ademais, quem mais contribui para o fim das touradas são os próprios defensores, cada vez menos e mais fanatizados, sobretudo aqueles que se lançam a cavalo ou de automóvel contra manifestações pacíficas e legítimas.

Quando lemos em “Memórias de Adriano”, de Marguerite Yourcenar - o imperador Adriano decretar o fim da morte de animais exóticos nas arenas de Roma -, percebemos que a evolução de tradições é um conceito que não é novo. Se em Roma as tradições evoluíam, porque é que dois mil anos depois não poderão evoluir?

Existem atividades válidas associadas ao universo dos touros que vão desde a proteção da espécie até à arte, à música ou à dança contemporânea. Todas poderão ruir em conjunto com as touradas se as festividades taurinas continuarem associadas a um espetáculo petrificado no tempo e de sofrimento para os animais