A minha opinião sobre a obra é secundária. O que é relevante é constatar que, há 15 anos, investiu-se consideravelmente para renovar o Jardim e que antes desta obra era um espaço consolidado e usufruído pelos figueirenses.
A questão da oportunidade da obra surge naturalmente. Embora financiada em 85% pela UE, o que pretendeu o executivo anterior? Aproveitar uma mera oportunidade para ir buscar fundos europeus? Havia alguma urgência para fazer esta intervenção?
Pior, esta intervenção no Jardim descaraterizou-o a tal ponto que dificilmente se pode continuar a considerar um jardim, assemelhando-se mais a uma praça, tal foi o nível de abate de árvores e a impermeabilização do solo. E na minha opinião este último é o aspeto mais preocupante, tendo em conta que se trata duma área que é o prolongamento do Corredor Verde das Abadias.
A impermeabilização de boa parte do jardim com pavimento de cimento, brita e tela é um erro. Está a contribuir para dificultar o escoamento de águas, quando deveria contribuir para absorver e escoar lentamente as águas pluviais até ao rio, evitando acumulação rápida em obstáculos impermeáveis que provocam cheias.
Tendo em conta que as alterações climáticas estão a contribuir para o aumento da frequência de fenómenos extremos, como as cheias, não é de todo uma boa ideia impermeabilizar uma área verde junto à foz de um rio.
Pubicado no Diario as Beiras - 17 de fevereiro de 2022