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Nova velha Comissão

Para a pasta da imigração que venha um amante de armas. Bate certo numa Europa cada vez mais fortaleza e cada vez mais opressora. Se é da pasta das finanças que falamos, então nada como um reconhecido lobista dos mercados financeiros cuja missão tem sido impedir a regulação desses mesmos mercados. Na cidadania, um ex-representante de um governo de um país que tanta tinta fez correr nos últimos anos por causa dos ataques à cidadania e à democracia – a Hungria. Nas alterações climáticas e energia só pode sugerir-se o melhor amigo do sector petrolífero. Nos assuntos económicos e monetários só poderia esperar-se a nomeação do mais fiel apaixonado das reformas estruturais.

Fortaleza, amiga da especulação, conservadora, defensora dos grandes interesses privados e a definhar economicamente. É este o retrato da Europa traduzido nas recentes nomeações para o novo colégio de Comissários. Não é um retrato novo, mas agora com mais pergaminhos...

A “Comissão Eurocrata” de Barroso despede-se agora. Apresenta-se na linha de partida a “Comissão Altamente Qualificada” de Juncker. Aos eurocratas agradecer-se-á o trabalho que fizeram para impor a austeridade como religião e as costas largas que tiveram para arcar com as responsabilidades. Os novos nomeados a Comissários são aqueles que em cada país – enquanto primeiros-ministros, ministros e secretários de Estado – executaram na perfeição as novas directrizes em tempos de crise. Foram mesmo os oportunistas da crise.

É também por isto que Carlos Moedas tão bem encaixa no perfil dos novos nomeados para o colégio de comissários. A Carlos Moedas bastaria ter sido amigo próximo de Pedro Passos Coelho, homem do aparelho, seguidor da Goldman Sachs. Ficar com uma pasta para a qual não se lhe reconhecem competências, associado ao facto de ter feito parte do governo que mais fez para destruir a ciência em Portugal, é apenas a cereja em cima do bolo. Não menosprezando a asfixia da ciência e do ensino superior, os cortes nas bolsas de investigação, as avaliações aos centros de investigação feitas à medida do encerramento de muitos deles, a emigração forçada de tantos e de tantas investigadoras que aqui não encontram alternativa, sabemos que para quem manda essas são apenas mais algumas variáveis dependentes. É que a Europa fortaleza, amiga da especulação, conservadora, defensora dos grandes interesses privados e a definhar economicamente também se quer inculta e acrítica.