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Natureza em meio urbano

A área onde está previsto o Parque Urbano, é uma área natural dinâmica percorrida por um curso de água alimentado pela Serra da Boa Viagem. Esse curso de água é, no meu entender, o ator principal daquele espaço, que lhe dá vida e beleza. Se lhe barrarmos o caminho, ele não para, vai contornar obstáculos, criar novas zonas de pressão e novas vias até chegar ao rio. 

O que já foi edificado naquela zona é um péssimo exemplo de urbanismo, onde inestéticas massas de betão de superfícies comerciais de grupos económicos, que pagam impostos na Holanda, impermeabilizam secções consideráveis do solo da Várzea. 

Quando se contempla o espaço natural da Várzea e as hortas urbanas, temos a sensação que é apenas uma questão de tempo para que aqueles monólitos de betão invadam o que ainda resta de verde. E é aqui que há uma fratura política imensa entre quem deseja uma cidade valorizando os seus espaços naturais ampliando a sua sustentabilidade e quem dá prioridade a negócios imobiliários (alguns efémeros) e de otimização fiscal travestidos de supermercados, que fazem perder dinheiro ao país, à cidade e que desfiguraram duradouramente a Figueira.

Este executivo já deu sobejas mostras de aceitar pacificamente os esquemas imobiliários descritos, sob o argumento de que são legais. O executivo pode e deve usar a panóplia de instrumentos que tem ao dispor e que não se resumem a constatar se uma obra é legal ou ilegal, e posteriormente cruzar os braços. 

Na pior das hipóteses, tem o poder de negociar com a força da legitimidade do voto que lhe conferiram os figueirenses. Por conseguinte, a minha sugestão para a Várzea é que os figueirenses vão votar nas próximas autárquicas numa nova equipa com uma visão diferente para a cidade, em particular para os seus espaços naturais. 

No caso da Várzea isso significa encontrar uma solução que assegure um corredor verde e cursos de água sustentáveis em harmonia com atividades humanas compatíveis com aquele espaço (desporto, lazer, pequeno comércio local ou ambulante, etc.), valorizando-o e embelezando a silhueta da Figueira.

Publicado no "Diário as Beiras" -  14 de janeiro de 2021