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Não compro o que não percebo

O livro “Meltdown Iceland” de Roger Boyes (Bloomsbury, 2009) descreve detalhadamente a crise da Islândia. Os três maiores bancos do país faliram arrastando o país para uma crise profundíssima.

O quarto maior banco, que era gerido por mulheres, ficou imune à crise bancária da ilha. Roger Boyes indagou se este fenómeno tinha alguma coisa que ver com a condição feminina. Mas a resposta das gestoras não poderia ser mais científica: não comprámos produtos financeiros que não percebíamos como eram compostos.

Recentemente, dois dos principais patronos da cidade (e financiadores de campanhas de alguns candidatos) que geriam negócios com lucros superiores à nossa compreensão ou caíram em desgraça ou estão com processos complicados na justiça. Em tempos de escândalo do BES, constato que existem negócios aparentemente muito lucrativos no nosso concelho que sinceramente não percebo.

Caricaturando, provavelmente o estimado leitor também não perceberia se um vendedor de tremoços conseguisse só por via da sua atividade lançar-se na compra e venda de aviões. Talvez a explicação até seja simples - um totoloto ou uma herança inesperada – mas só pela lógica do negócio original não chego lá.

O exemplo do BES poderia pelo menos servir para os nossos representantes locais criarem um filtro crítico mais eficaz e um distanciamento higiénico destes fenómenos.