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Museu do mar

Mais do que um museu material considero que a Figueira, tal como todas as povoações costeiras, merecem locais de memória (materiais ou imateriais) daquilo que foi a vida no mar, outrora fundamental para a vida das populações. 

Como descendente de gentes do mar sou mais sensível ao tipo de memória que o Museu Marítimo de Ílhavo nos oferece e cujo trabalho se estende a várias povoações costeiras, algumas delas do nosso concelho. É um museu alicerçado num trabalho rigoroso de recolha de informação, de registos de tripulações a registos fotográficos de época, em grande medida de caráter imaterial mas que conta com a devida profundidade a nossa história. Poder consultar as fichas profissionais do meu avô Aureliano ou do meu tio João Brás, ambos pouco mais do que crianças quando se fizeram à pesca do bacalhau, emociona-me mais do que estátuas e objetos da faina marítima empilhados sem nexo em salas, como se vê em tantos lados. Pode ler que os meus familiares na sua adolescência andaram a pescar o bacalhau no Mar do Norte em 1943 e 1944, em plena II Guerra Mundial, vale mais do que a exibição de qualquer objeto.

Tendo em conta o excelente trabalho feito em Ílhavo, se pretendemos tratar bem a memória das nossas gentes do mar, apelo que aqui não se tente inventar a roda e que se criem sinergias com os profissionais do Museu Marítimo, eles andam no terreno há décadas e sabem bem o que fazem. 

Pubicado no Diario as Beiras - 24 de fevereiro de 2022