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Medicina com dignidade

Os centros e os serviços de saúde que têm encerrado ou diminuído significativamente a sua atividade no nosso concelho, especialmente nas zonas mais periféricas, como na Marinha das Ondas ou em Maiorca, bem como a falta de transporte de pacientes para consultas e os anacrónicos horários de atendimento, constituem um quadro de um problema persistente que tarda em ser atacado de uma forma eficiente. Se este problema já é grave por si, em tempos de Covid torna-se ainda mais pertinente, visto que a resposta de proximidade dos centros de atendimento de saúde à pandemia deverá rápida e eficiente.

Recentemente, tentou-se implementar uma solução de transporte, o FigBus, para os centros de saúde da margem sul do concelho que não teve grande sucesso. Porém teve pelo menos o mérito de tentar responder a um problema que há muito tinha sido identificado e se arrastava há décadas. Novas tentativas deverão ser feitas, talvez articulando melhor os horários com os interessados (população e centros de saúde).

Se há um sector em que não se deve pensar em poupar nos dias que correm é o sector da saúde. Poupar pode significar colocar pessoas em situações de risco. Por isso concordo que sejam implementados mais incentivos à contratação de profissionais de saúde e ao investimento nas infraestruturas, porque o ordenado não é tudo, sobretudo para quem já aufere um bom salário, como é o caso dos médicos. É necessário que os médicos sintam também que vão trabalhar no seio de boas equipas, com enfermeiros e técnicos em número suficiente e pagos justamente, bem como sintam que os centros de saúde dispõem de todo o equipamento necessário para exercer com dignidade a sua profissão. Em suma, os incentivos locais não deverão resumir-se a incentivos diretos aos médicos, mas também a medidas que melhorem as suas condições de trabalho, das suas equipas e infraestruturas. 

Publicado no "Diário as Beiras" - 3 de dezembro de 2020