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Más ligações ferroviárias

Nos tempos que correm, não faz sentido equacionar a construção de um novo aeroporto na Região Centro. Já antes da Covid-19, a crise no setor da aviação comercial era profunda, que me fazia duvidar, como escrevi neste mesmo espaço, que existisse alguma companhia aérea interessada em voar para um aeroporto na Região Centro sem uma generosíssima ajuda financeira da região. Depois da catástrofe que se abateu sobre o sector aeronáutico com o confinamento das populações, as grandes questões são quais as companhias aéreas que continuarão a poder operar neste período de pós-confinamento e até onde irá chegar a vaga de despedimentos e a redução de linhas aéreas.

A Região Centro, as suas comunidades intermunicipais e os respetivos municípios deveriam sim fazer pressão junto do governo central para melhorar a qualidade, os horários e a rapidez dos transportes que ligam a região, em particular o nó de Coimbra, aos dois aeroportos do Porto e de Lisboa. Já aqui escrevi que os horários do serviço ferroviário estão completamente desajustados dos horários de partida dos primeiros voos dos referidos aeroportos. No caso do Porto, a ligação por metro de superfície degradou-se consideravelmente, tendo sido suprimidas ligações diretas de Campanhã e a frequência de composições para o aeroporto.

Muitos dos que recebemos convidados estrangeiros na Região Centro, uns empresários, outros cientistas, artistas, representantes políticos, etc., passamos por momentos de vergonha quando somos obrigados a explicar aos nossos convidados que não existem ligações ferroviários suficientemente madrugadoras para apanharem o voo de volta para os seus países, o que nos obriga a recorrer por vezes a soluções rocambolescas que nos envergonham como cicerones num país já de si com um défice de credibilidade.

Pergunto-me se existe alguém na Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional ou nas variadas autarquias da Região Centro que tenha passado uma vergonha destas, ou talvez não tenham tido vergonha suficiente reivindicar firmemente junto do poder central por ligações decentes.

Publicado no "Diário as Beiras" - 3 de setembro  de 2020