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Ler na praia

Ler na praia deveria ser uma modalidade olímpica. Não é para qualquer um. É preciso gerir os grãos de areia que se infiltram entre as páginas produzindo sons que irritam múltiplas classes de picuinhas, especialmente os intelectuais picuinhas que abominam a praia, para quem este desporto é heresia.

Mas quem gosta de ler na praia também tem as suas picuinhices. Não leio na praia qualquer autor. Gosto de leituras que rimem com a agitação marítima, com o cheiro a bronzeador e olhares furtivos entre chapéus de praia.

Fréderic Beigbeder é um desses autores que levo a banhos. Com apenas uma obra traduzida em português (14,99 euros – A outra face da moeda), o prémio Renaudot 2009 e admirador de Fernando Pessoa retoma a tradição libertina e mundana de Balzac. Mas com Beigbeder a crítica social não é moralista, o próprio não se leva muito a sério nem se esquiva à auto-crítica, como no premiado “Un romain français” escrito durante um período de detenção após um episódio mundano ocorrido à saída de uma discoteca. A escrita de Beigebeder funciona como um poderoso termómetro social. Sem renunciar às suas raízes intelectuais - não nos enjoa com personagens brilhantes - Beigbeder mergulha no meio daqueles que não abrem um livro e cruza as suas preocupações terrenas com as preocupações da alta intelectualidade com muita ironia e espirituosidade. E mais não digo. É para ler, na praia.

As Beiras, 3 de julho de 2014