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Lembram-se do Leslie?

O maior drama que se viveu no concelho da Figueira durante passagem do furacão Leslie ocorreu no parque de campismo do Cabedelo. Houve rulotes levantadas e arrastadas pelo vento como se fossem caixas de fósforos. Alguns dos ocupantes das rulotes escaparam in extremis à fúria dos ventos. Nesse dia não faltou muito para ter morrido gente ali naquele local. Não podemos voltar a correr os mesmos riscos.

Não é preciso ter um curso de ordenamento do território para percebermos que aquele espaço não pode continuar como está e, ao que tudo indica, a servir de habitação a famílias com dificuldades económicas e sociais. Será que há medo de debater o assunto? Moram ou não famílias no atual parque de campismo? Existem crianças a viver no parque? É que se existem, esta não é a resposta que um estado direito deverá oferecer a pessoas sem habitação. E esse é o problema número um que deve ser resolvido antes de encerrar o campismo. É preciso juntamente com a segurança social dar resposta a hipotéticos casos de risco de carência habitacional associados ao encerramento do campismo.

Depois há outro problema que estranhamente é evitado. Existe ou não existe conflito de interesses entre eleitos da oposição de direita e a decisão de encerramento do parque de campismo? É que se existe, temos de o saber com muita clareza, para que a discussão seja realmente franca e não andemos com rodriguinhos, emissários e mensagens encriptadas por interpostas pessoas.

Relativamente à questão colocada, apoio a posse administrativa do parque de campismo, desde que se encontre uma solução que impeça o agravamento de eventuais casos de precariedade social decorrentes do encerramento do parque e desde que a solução a implementar não volte a colocar pessoas em situação de alto risco em caso de futuras tempestades. Por outro lado, quem defende que está tudo bem e deve ficar tudo exatamente como está deverá assumir por completo a responsabilidade de eventuais dramas que se possam produzir no caso de uma nova tempestade.

Publicado no "Diário As Beiras" - 16 de julho de 2020