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Ineficiência e desorganização

A bizarra (des)organização territorial de Portugal continental é quase única entre os países da UE da nossa dimensão. Estes implementaram regiões administrativas sujeitas ao escrutínio democrático, através da eleição de equipes com poder executivo, legislativo e fiscalizador. 

Essa organização permite a implementação estratégias regionais eficazes concentradas em áreas temáticas de desenvolvimento: conhecimento, ambiente, mobilidade, urbanismo, cultura, etc. Quem consulta os documentos estratégicos apresentados aos programas de desenvolvimento e as candidaturas submetidas aos concursos europeus, nota uma diferença assinalável entre o trabalho das regiões administrativas europeias (Madeira, Açores e resto da Europa) e o trabalho amador, confuso, marcado pelo absentismo ou pelo umbiguismo de espertalhaços do nosso caos regional continental (CCDRs, CIMs, Regiões de Turismo, etc). Por exemplo, a região autónoma dos Açores, definiu uma estratégia de desenvolvimento muito alicerçada no conhecimento e no ambiente, conseguindo lançar no arquipélago ambiciosos programas de desenvolvimento baseados na sustentabilidade ambiental, nos oceanos e na instalação de infraestruturas tecnológicas. 

Graças a essa estratégia, a ESA instalou uma estação de rastreio de lançadores de satélites e programou a aterragem do novo veículo reutilizável da ESA, o Space Rider, no aeroporto de Santa Maria, cujo impacto tem sido espantoso nas instituições académicas e no tecido empresarial do arquipélago. Outras regiões europeias apostaram forte em estratégias de desenvolvimento sustentável muito avançadas, onde se destacam as regiões alemãs onde os Verdes integram ou lideram os executivos regionais.

A Região Centro é um exemplo negativo muito ilustrativo, uma região que através da CCDR, das CIM ou da Região de Turismo é incapaz de exigir ao governo e à CP algo tão simples como um horário de ligações ferroviárias de longo curso normal que garanta a um passageiro chegar a Lisboa com alguma antecipação para uma reunião às 9 da manhã ou apanhar um avião às 7 da manhã no Aeroporto Humberto Delgado.

Pubicado no Diario as Beiras - 18 de junho de 2021