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Humanização dos espaços

A Praça Europa, é um espaço artificial, conquistado ao rio, que liga o Porto Comercial e o Porto de Recreio. Não conheço o histórico das decisões que levaram à criação daquele espaço, mas tenho a sensação que nunca foi muito claro o que se pretendia, excetuando a óbvia continuidade entre os dois portos.

Situando-se a fachada ribeirinha do edifício da câmara municipal voltada para esta praça, parece-me óbvio que possa ser um espaço privilegiado para ser desfrutado e partilhado pelos funcionários e munícipes, como já acontece no parque de estacionamento ali ao lado. Quando se observa a Praça da Europa pelas imagens de satélite, são patentes uma ideia, um desenho de circuito e de acesso ao rio, através do imenso espaço dedicado ao relógio de sol. Pode não ser brilhante (não sou arquiteto para avaliar a qualidade do projeto), mas falha claramente a componente humana para dar sentido ao projeto. Há iniciativas que vão sendo ali realizadas pontualmente, mas genericamente a praça apresenta-se sem vivacidade e para mal dos temas que me são queridos, ninguém liga ao relógio de sol.

Depois de ter vivido noutras latitudes, algo que me intriga é nossa incapacidade para frequentar espaços verdes apesar de sermos agraciados por uma generosa meteorologia. Se este espaço existisse no norte da Europa, a praça seria poiso dos funcionários à hora do almoço para comer a marmita ou a “tartine” (uma sanduiche baguete bem fornecida). Mas para isso são precisos bancos, espaços aprazíveis na relva e convidativos que levassem as pessoas a ocupar a praça. Estou a pensar em conjuntos de bancos dispostos numa configuração convivial e humana, com mais árvores, relva bem mantida ou mesmo sombras fornecidas por estruturas rebatíveis em caso de ventania e uma inevitável pista de bicicleta que atravessasse praça. Um dos nossos excelentes arquitetos locais certamente daria conta do assunto.

Sendo o relógio de sol um instrumento de medida imperfeito, mas muito regular, oferece uma panóplia de trabalhos interessantes para alunos do secundário, se precisarem de ideias, avisem.

Publicado no "Diário As Beiras" - 30 de julho de 2020