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Fora de horas

Em “febre de sábado à noite”, de John Badham, Tony Manero (John Travolta) é um jovem de um bairro desfavorecido de Nova Iorque que se vai desenrascando à custa de pequenos biscates, em especial aulas de dança. Tony ainda mora em casa dos pais.

Ao fim de semana, com os tostões que vai economizando, aproveita o que a noite tem para lhe oferecer, esquecendo a semana de trabalho nas pistas de dança da cidade onde brilha com uma exímia técnica ao som da música disco.

Tal como Tony Manero, muitos jovens, mães solteiras, veraneantes com empregos precários ou simplesmente desempregados vão invadir a nossa cidade no verão em busca daquelas semanas que vão ajudar a suportar o resto do ano.

Vão gastar o que têm e o que não têm para se mirarem ao espelho durante cinco minutos de vaidade e fantasiar sobre aquela ou aquele que esperam encontrar nessa noite. Sabem que serão censurados porque o sentimento de culpa incutido pelo catolicismo mais retrógrado ainda vigia as nossas vidas. Como pode alguém que vive com dificuldades pensar em divertir-se?

Aprecio esses locais de diversão democráticos onde se nota que clientes, dj’s e baristas não vivem à larga, mas onde apesar de tudo as misérias da semana ficam à porta e se aproveita intensamente cada minuto. Acho esta atitude salutar no atual ambiente de depressão e um autêntico ato de resistência a todos aqueles que tentam esmagar as classes baixas com austeridade mas que compactuam com os paraísos fiscais e a especulação financeira.

As Beiras, 4 de Julho de 2013