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Esperando a vacina

As festas foram passadas na bolha familial mais restrita, evitando contribuir para a multiplicação de contactos entre familiares e amigos, tão próprio da época entre o Natal e a Passagem de Ano. Sobretudo, evitámos contactos diretos e indiretos com as pessoas dos grupos de risco, em particular os mais idosos. Mais uma vez partilhámos momentos importantes com os avós através das plataformas digitais.

A escolha do isolamento não teve apenas como base as recomendações da Direção Geral de Saúde e da Organização Mundial de Saúde, mas sobretudo porque queríamos evitar que um dia algum dos nossos familiares passasse um mau bocado ou que o nosso filho ficasse privado de um dos familiares, por uma simples ceia de Natal ou um jantar familiar. 

Especialmente, o aparecimento de uma nova estirpe do vírus da Covid-19 que pode aumentar o R0 (número médio de contágios causados por cada pessoa infetada) em cerca de 0.7 e a possibilidade da vacina começar a travar o ritmo da propagação, fez-nos considerar que mais vale ser paciente agora durante algum tempo do que deitar tudo a perder por um efémero momento, apesar de as saudades serem muitas.

Uma segunda razão para não embarcar em riscos desnecessários é o imenso respeito que tenho pelos profissionais de saúde que trabalham num meio com riscos acrescidos e muitos deles com contratos e com salários que não correspondem às suas responsabilidades e ao tempo de serviço. 

Considero absolutamente condenável que o egoísmo de todos aqueles que sob as mais variadas desculpas (das teorias tontinhas “pela verdade” a várias formas de populismo tóxico) colocam em cheque o trabalho do Serviço Nacional de Saúde contribuindo para que eles próprios e as pessoas que infetam vão para os hospitais saturar os serviços que deveriam estar à disposição das pessoas que se infetam involuntariamente e de todos os outros pacientes a necessitar de cuidados hospitalares fora do âmbito da Covid.

Publicado no "Diário as Beiras" -  7 de janeiro de 2021