A Ilha da Morraceira e o Estuário do Mondego constituem uma rara zona que combina património natural e humano. Ao abrigo de um tratado internacional, a Convenção de Ramsar, foi classificada como Zona Húmida de Importância Internacional que abriga espécies piscícolas migratórias, sapais e é habitat de espécies de aves marinhas e aquáticas, como o flamingo. A preservação de uma zona húmida com estas características é muito delicada e requer sobretudo atenção da parte das várias instâncias públicas que tutelam a zona.
A produção artesanal do sal é atividade humana que mais distingue a Ilha da Morraceira e constitui uma das montras mais distintivas do concelho. Tal como os tesouros naturais da Morraceira, esta é uma atividade que requer uma atenção mais aturada do que aquela que lhe tem sido dada. Existem variadas parcelas de salinas abandonadas e muitas estão degradadas, importando referir que existem poucas empresas ou artesãos com conhecimentos técnicos para realizar este tipo de reparações. As alterações climáticas, em particular a ligeira subida do nível da água do mar, já trouxeram marés, especialmente em dias de tempestade, que tiveram impactos muito negativos nas estruturas das salinas. É prioritário que a autarquia se envolva numa solução para reforçar as salinas, sabendo que nas próximas décadas a probabilidade deste tipo de ocorrências vai aumentar. Ademais, ainda existe trabalho de natureza familiar, de baixíssima remuneração, que tem sido fundamental para manter a chama das salinas, mas que não corresponde de todo ao interesse crescente ao nível mundial que o sal e produtos derivados têm despertado. Amigos europeus que trabalham na alta restauração a quem costumo oferecer orgulhosamente flor de sal e salicórnia da Figueira, sublinham o alto valor acrescentado destes produtos, insuficientemente valorizados no país.
Na linha do que é reivindicado por especialistas e por associações que trabalham na ilha, um grande passo para responder aos desafios descritos de uma forma institucional seria classificar a Ilha da Morraceira como um Eco Museu Municipal.
Publicado no Diario as Beiras- 1 de abril de 2021