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Do Campo ao Cabo

São cerca de 25 os quilómetros que separam a Borda do Campo do Cabo Mondego. Mas são ainda mais os quilómetros mentais que separam aquela população dos centros de decisão do concelho da Figueira. A pergunta a que respondemos esta semana é ilustrativa desse afastamento. É a segunda vez que respondemos a uma questão sobre o futuro do Cabo Mondego, que é indubitavelmente um tema apaixonante, mas não deveríamos também dar mais alguma atenção a problemas básicos da população mais afastada do centro do concelho? 

Nesta segunda abordagem, questiona-se o futuro do edificado do Cabo Mondego. Em coerência com a minha resposta anterior sobre a requalificação do Cabo Mondego considero que qualquer seja a futura função do edificado, o caráter natural daquela zona deverá sair reforçado, bem como as evocações à memória da atividade mineira e o estudo da história natural. A solução a implementar deve ser cuidadosamente escrutinada por especialistas destas áreas. Ademais, a futura pista para bicicletas Eurovelo atravessará o Cabo Mondego, o que ajudará a reforçar o equilíbrio entre as vertentes humana e natural. Não será pois aceitável voltarmos ao tempo de projetos arquitetonicamente agressivos, que geraram lucros efémeros e duvidosos e mutilaram a silhueta figueirense. O efémero não pode comprometer o legado natural do Cabo Mondego com mais de 100 milhões de anos.

Voltando à Borda do Campo, não é aceitável que os habitantes sejam obrigados a sair da localidade de carro para conseguir uma cobertura de internet que lhes permita realizar teletrabalho. Quando a escola passou ao modo de ensino à distância, inúmeras crianças não tiveram a possibilidade de seguir os estudos durante esse período. Tudo isto enquanto figueirinhas discutem aeroportos imaginários, listas de falsos apoiantes, ataques pessoais, retratações e outras dores de dentes palacianas. No entanto, não é por falta de soluções, os operadores alugam antena provisórias recetoras-emissoras que poderão ser uma solução viável até ser estabelecida a ligação à internet definitiva prevista para o final do ano.

Publicado no Diario as Beiras - 6 de maio de 2021