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DEBATER O RACISMO NA UC: ASSIM NÃO, SENHOR REITOR!

Realizou-se ontem, dia 22 de junho, a primeira mesa redonda da iniciativa “Racismo e discriminação no Ensino Superior: a realidade da UC”, transmitida na página de Facebook dos Estudantes Conselheiros da Universidade de Coimbra.

A sessão, que contou com a participação do Reitor da Universidade de Coimbra, o Professor Amílcar Falcão, do Presidente da Direção Geral da Associação Académica de Coimbra, Daniel Azenha, e a moderação de João Gonçalo Lopes, revelou a incapacidade dos palestrantes para discutir um tema desta seriedade.

Em primeiro lugar, é alarmante que numa Instituição de Ensino Superior (IES) que conta afortunadamente com muitos/as estudantes racializados/as, portugueses/as e estrangeiros/as, internacionais ou oriundos da CPLP, uma mesa-redonda desta natureza se concretize sem as respetivas Associações de Estudantes, sem o seu protagonismo, sem a amplificação das suas vozes e sem conhecimento de causa.  Ainda pior, questões fundamentais como combate ao racismo, à xenofobia e à misoginia foram tratadas sem qualquer profundidade e sem compromisso com a realidade dos milhares de estudantes e funcionários/as que compõem a Universidade de Coimbra.  

Em consequência, ao invés de se ter promovido uma conversa informada e necessária sobre como combater o racismo na UC, assente no conhecimento especializado que é produzido e ensinado na própria UC, e à revelia deste, reproduziram-se chavões desinformados como assumir-se que a discussão sobre o racismo tem a ver apenas com estudantes internacionais, escolhendo ignorar que existem portugueses/as racializados/as que estudam na Universidade de Coimbra; tratando-se o racismo como uma série de comportamentos individuais e isolados, ao invés de algo estrutural e sistémico nas instituições que a UC deve ser a primeira a combater; e em que se discutiu a propina internacional como única queixa relativa à discriminação na UC, ignorando-se questões como as discriminações e assédio infligidos contra estudantes e a quase ausência de pessoas racializadas no corpo docente da Universidade.

Em suma, esta sessão veio confirmar a existência de uma postura acrítica e propagandística sobre o trabalho da Reitoria e da DG/AAC nesta matéria e assevera a urgência de se criar um debate público sério e inclusivo sobre o racismo nas IES. Ao contrário do que o Reitor possa pensar, a captação e o bom acolhimento de estudantes internacionais passa pela criação de estruturas e mecanismos de promoção da igualdade na UC, e não o “arrumar para debaixo do tapete” de problemas por demais evidentes para as pessoas afetadas.

O Bloco de Esquerda manifesta a sua preocupação com a forma discriminatória como este debate foi organizado, assim como com a leviandade das observações proferidas por pessoas que ocupam posições de responsabilidade na Universidade de Coimbra, em especial o seu Reitor, que manifestamente desconhece a instituição que gere, quem dela faz parte, quem a procura, e desqualifica, assim, a investigação e o ensino que nela se desenvolvem neste domínio. A Universidade de Coimbra possui pessoas e instrumentos qualificados para desenvolverem um plano alargado para a igualdade, nas suas mais diversas vertentes. Este é um desafio maior que tem de ser encarado na tão propalada modernização da Universidade como espaço de cidadania e o único caminho para que a UC seja procurada internacionalmente para formação e pesquisa.

O Bloco de Esquerda exorta a que as Instituições de Ensino Superior se juntem e motivem o debate público sobre a permanência de racismo estrutural, institucional, sistémico, epistémico e quotidiano na nossa sociedade e que trabalhem ativamente para o combater.

 

Coimbra, 23 de junho de 2020

A Coordenadora Concelhia do Bloco de Esquerda de Coimbra