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Da ENRON a Chipre

Numa escuta gravada pela polícia, um corretor da ENRON pedia ao operador de uma central elétrica para inventar uma boa razão para desligar a central da rede pública. Em troca de ganhos imediatos de milhões de dólares, estes apagões gerados na rede de abastecimento de energia da Califórnia geraram prejuízos, falências, desemprego e óbitos hospitalares. A ENRON, uma fornecedora de energia que se especializou na especulação financeira no setor energético, faliu há cerca de 11 anos.

Para quem leu a sua história em “The Smartest Guys in The Room“ de McLean e Elkind (Portfolio, 2003 ) identifica bem a ideologia financeira responsável pela atual crise. As práticas nefastas do capitalismo financeiro tal como o imaginaram Friedman, Thatcher e Reagan estão também patentes nas obras que descrevem o colapso da Islândia e o escândalo financeiro de Madoff: “Meltdown Iceland” de Roger Boyes (Bloomsbury, 2009 ) e “Too Good To Be True” de Erin Arvelund (Portfolio, 2009 ).

Recentemente, a crise cipriota revelou um sistema bancário sete vezes mais volumoso que o PIB da ilha e depósitos associados à criminalidade e à especulação financeira. Onze anos depois da falência da ENRON pouco ou nada mudou. Mas o pior do sistema financeiro está na City londrina, a ponte para offshores onde circula dinheiro suficiente para pagar a crise, onde se realizam cerca de 70% das transações financeiras europeias (geram 10% do PIB britânico). É essencial uma outra Europa, com coragem para combater este flagelo.

As Beiras, 4 de Abril de 2013