Desde 2009, tenho escrito neste periódico e noutros espaços sobre a erosão costeira, do Cabedelo à Leirosa. Ajudei na elaboração de perguntas ao governo e estive na organização duas sessões públicas exclusivamente dedicadas ao assunto com ativistas locais e nacionais.
Numa sessão de sala cheia na sede da Junta de Freguesia de São Pedro, tivemos o Prof. Filipe Duarte Santos, coordenador do Grupo de Trabalho do Litoral (GTL) que elaborou o trabalho mais completo sobre os problemas do litoral português e respetivas soluções. Esta é a questão onde urge intervir no Cabedelo, aliás este inverno já nos deu indicações claras de que a segurança e o bem-estar das populações podem ser de novo ameaçados.
O problema é que, desde 2009, as intervenções que foram feitas são quase exclusivamente intervenções pontuais, de caráter temporário, e este é um problema estrutural. O relatório do GTL indica soluções duradoras muito concretas que poderiam estar já a ser implementadas. Mas a realidade é que os sucessivos governos do centrão têm vindo sempre a adiar qualquer intervenção mais onerosa sob as mais variadas desculpas, da Troika à Covid, como se este fosse um problema em que há margem para fazer poupanças.
Ao nível regional, reina a indiferença. Este problema, que assola a Costa de Prata, merece pouca ou nenhuma atenção da CCDRC e de outros órgãos regionais. Se não houver areia no Cabedelo, provavelmente não haverá ali turismo, é tão simples como isso.
Ao nível local, este assunto também deveria merecer um cuidado bem mais apurado, não apenas aumentando a pressão sobre o governo, mas também montando um dossier técnico blindado a argumentos proteladores do problema para investir de uma forma certeira ao nível nacional.
O Cabedelo merecia também uma acessibilidade mais digna, que o libertasse de uma certa forma de guetização geográfica. A Eurovelo poderia ser uma oportunidade para mitigar o problema, especialmente sabendo que este projeto se articula com variadíssimos modos de mobilidade suave. Não foi certamente por falta de ideias e até de propostas locais que essa solução não foi debatida e tentada.
Publicado no Diario as Beiras- 18 de março de 2021