Recentemente, foi publicado na Science o trabalho científico “Inferring the effectiveness of government interventions against COVID-19” de Jan M. Brauner et al. Este trabalho analisa o efeito das medidas implementadas por 41 países para combater a pandemia entre janeiro e maio de 2020 (em acesso livre com boas infografias para leigos). Se compararmos as medidas de confinamento e de desconfinamento mais recentes com as principais conclusões deste e de outros trabalhos similares, verificamos que são relativamente coerentes com as práticas mais indicadas pela ciência. Os debates no espaço público sobre a filigrana das medidas, como os horários de funcionamento, são inteiramente legítimos, mas contam muito pouco para a amplitude do problema.
À luz da ciência sabemos hoje que ao ar livre a probabilidade de o vírus se propagar é muito inferior do que em espaços fechados. Este parece-me ser o aspeto mais mal explorado nesta pandemia. Há aqui margem para intervir ao nível local, encontrando soluções para manter algumas atividades em regime parcial aproveitando ao máximo as oportunidades em espaços abertos e arejados. O que não falta em Portugal são pátios, passeio públicos e praças que temporariamente poderiam servir de mercados ou de extensões do comércio e da restauração, com os devidos limites. As limitações de circular nos areais praias da costa atlântica (não na Costa do Estoril) parecem-me absurdas e contraproducentes. A limitação deve incidir nos aglomerados de pessoas.
Mais do que as medidas de desconfinamento em si, preocupa-me a qualidade do apoio (rapidez e a carga burocrática) que se está a dar aos trabalhadores e pequenos empresários cujas atividades foram limitadas ou encerradas pelo confinamento. Neste particular poderíamos estar a fazer melhor. Preocupa-me igualmente a desinformação presente nos média, em vez de cientistas contratam-se comentadores de entretenimento que não leem um artigo científico. Por exemplo, em tempo de pandemia este mesmo jornal poderia dedicar o espaço do “Guia Astrológico” a um virologista ou a um epidemiologista
Publicado no Diario as Beiras- 25 de março de 2021