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17 NOV: "Vitória de Trump e Avanço da Extrema Direita"

                          Vitória de Trumps e Avanço da Extrema Direita

A derrota do nazi-fascismo na 2ª Guerra Mundial e o conhecimento dos horrores por ele praticados, a par da prosperidade económica e expansão do Estado Social, que durou até ao início dos anos 70, tornaram a extrema-direita residual, na Europa. Apenas em Itália os neofascistas do MSI conseguiram alguma expressão, mas sem passarem dos 5-6%. 

Os “choques petrolíferos” dos anos 70 criaram uma nova realidade. O rápido aumento do desemprego nas economias capitalistas avançadas permitiu à extrema-direita ganhar um novo impulso. O seu discurso, que culpava o aumento do número de imigrantes pela crescente falta de emprego e pelo aumento da criminalidade, foi conquistando adeptos. Assim, nos anos 80, a desilusão com os governos de François Mitterrand, em França, levou ao aumento da votação na Frente Nacional de Le Pen. Até aí um partido marginal, que não passava dos 2% dos votos, rapidamente chegou aos dois dígitos, e tornou-se, a partir de então, uma força incontornável na cena política francesa.

Após a desagregação do bloco soviético, verificou-se a consolidação mundial do neoliberalismo e a rendição dos partidos social-democratas europeus à nova ideologia triunfante. A persistência do desemprego, o crescente alargamento do fosso entre os povos e os seus representantes favoreceram a retórica populista. Assim, a extrema-direita e a direita populista alargaram a sua progressão a outros países europeus. Em 1999, na Áustria, o FPÖ, dirigido por Jorg Haider, conseguiu o apoio de 27% dos eleitores, assegurando um lugar na coligação governativa.

O início do século, marcado pelos atentados de 11 de setembro de 2001, nos EUA, levou os governos a implementar políticas securitárias, o que favoreceu a narrativa da extrema-direita. Esta passou a ter na islamofobia uma pedra angular dos seus programas. Em 2002, nas presidenciais francesas, Jean-Marie Le Pen obteve quase 17% dos votos e passou à 2ª volta. 

A crise económica mundial de 2008, ao atingir duramente a classe média, aumentou a atração pela extrema-direita e pela direita populista. A crise dos refugiados, na sequência da guerra na Síria, e os atentados em Paris e noutras cidades europeias, da autoria do autodenominado Estado Islâmico, funcionaram como combustível adicional para a demagogia populista da extrema-direita, cuja discurso islamofóbico encontra eco em vastos setores da população. 

No referendo britânico sobre o “Brexit”, foram os sentimentos anti-imigração que, em grande parte, explicam o triunfo da opção pela saída da UE. Nos últimos tempos, a extrema-direita e a direita populista europeias procuraram apresentar uma face mais respeitável, de que é exemplo Marine Le Pen. Simultaneamente, adotaram uma retórica social com forte componente protecionista e isolacionista, mas, igualmente, nacionalista e xenófoba. 

Foi essa componente que Trump incorporou no seu discurso. Com ela, conquistou a maioria do operariado branco dos Grandes Lagos, há muito fustigado por um desemprego crónico e que desenvolveu uma grande raiva contra as elites políticas tradicionais, representadas por Hillary Clinton. Juntando esse eleitorado à sua base conservadora tradicional, conquistou a presidência dos EUA, apesar do seu estilo truculento, povoado de insultos e de tiradas xenófobas, racistas e misóginas.

O resto do mundo não escapa a esta onda. Nas Filipinas, o presidente Duterte elogia Hitler e apoia a execução extrajudicial dos traficantes de droga. No Brasil, o deputado Jair Bolsonaro elogiou, em pleno Congresso, o torturador da ex-presidente Dilma Rouseff durante a ditadura militar.

Perante este quadro, algumas questões se colocam: Serão apenas as questões económicas que explicam a ascensão da extrema-direita? Qual a resposta da esquerda a este preocupante fenómeno? Dará a vitória de Trump um alento adicional à direita populista e à extrema-direita europeia? Como construir uma narrativa contra-hegemónica face ao senso comum, tanto neoliberal como da direita populista e da extrema-direita? 

É a estas e outras questões que o Coletivo de Solidariedade Internacionalista quer responder, numa sessão a realizar no próximo dia 17 de novembro, pelas 21horas, na Galeria Santa Clara, em Coimbra.