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Abrandar e alargar

Estive presente há quase 40 anos na inauguração da Ponte Edgar Cardoso. Juntamente com um grupo de amigos de infância da Rua Afonso Albuquerque, uns a pé e outros de bicicleta, subimos e atravessámos a ponte para o lado de lá. Nesse dia a ponte era toda nossa e até demos toques numa bola em pleno tabuleiro. Um dia enganador, porque logo nos dias seguintes, ao atravessarmos a ponte para ir apanhar caranguejos por baixo do acesso sul, apercebemo-nos que aquela via não era feita nem para bicicletas, nem para peões. A dificuldade com que se progredia a pé ou de bicicleta pela margem estreita de passeio da ponte, os obstáculos da estrutura da ponte e a proximidade aos veículos que naqueles tempos cumpriam menos os limites de velocidade, tornavam a travessia penosa. Mas, o pior de tudo, eram os acessos quase inexistentes para peões, que exigiam um bom nível de improviso e de destreza a quem estivesse disposto a atravessar aquela obra de engenharia que desenhava uma nova silhueta nos postais turísticos da cidade. 

Desde então, muito pouco mudou. Por isso, esta intervenção poderia ser uma boa oportunidade para implementar acessos dignos, a sul e a norte, para peões e bicicletas, para abrandar a velocidade de circulação na ponte (continuamos a constatar grandes aceleradelas), para alargar a via pedonal, para tornar mais convidativa a circulação de bicicleta no tabuleiro e para permitir que a espantosa elevação da ponte ofereça locais abrigados de contemplação das salinas, do rio, do mar e das duas margens do Mondego. 

O transporte coletivo no concelho é uma das questões que se tem eternizado sem soluções à vista. Esta poderia ser também uma oportunidade para repensar o transporte coletivo, envolvendo as empresas e os executivos das freguesias da margem sul na criação de novas soluções de transporte sustentáveis e que poderiam já ser adaptadas aos peões durante o período de obras a que será sujeita a ponte. 

Publicado no "Diário as Beiras" - 10 de dezembro de 2020