No próximo ano letivo, mais 24 escolas, atualmente em funcionamento no distrito de Coimbra, irão encerrar as suas portas (veja o quadro abaixo). Afirma o Ministério da Educação e Ciência (MEC) que, em todo o Continente, às 311 escolas que decidiu encerrar este ano, seguir-se-ão ainda outras em anos seguintes. Na maior parte dos casos, não é ainda do domínio público quais as escolas que acolherão os alunos provenientes das escolas a encerrar.
Diariamente, ouvimos as habituais declarações do ministro Crato, referindo negociações com as autarquias para a concretização deste processo. De imediato, estas declarações são desmentidas pelas próprias autarquias que asseguram que o Ministério foi muito além do acordado.
Todos e todas se recordarão que, pelo decreto-lei n.º Decreto-Lei n.º 7/2003, de 15 de janeiro, assinado, entre outros, pelo então primeiro-ministro Durão Barroso, pelo então ministro das Cidades, Ordenamento do Território e Ambiente Isaltino Morais e pelo então ministro da Educação David Justino, o governo impôs aos municípios a elaboração da chamada Carta Educativa, entendida como “o instrumento de planeamento e ordenamento prospetivo de edifícios e equipamentos educativos a localizar no concelho (…)”
As Câmaras e Assembleias Municipais tiveram um ano, a partir daquela data, para elaborar e aprovar a respetiva Carta Educativa, submetendo-a à ratificação do Ministério da Educação. Decorreram mais de 10 anos: a maior parte das Cartas Educativas municipais transformaram-se em ‘letra morta’, muitas delas logo passados muito poucos anos. O Ministério fez tábua rasa desses instrumentos de planeamento municipal e foi impondo aos municípios sucessivas ‘cartas educativas’ informais, com soluções ‘ad hoc’, contrariando as anteriormente aprovadas, designadamente quanto aos agrupamentos de escolas, muito mais concentrados, e quanto à rede de escolas do 1.º ciclo do ensino básico, drasticamente reduzida. De nada valeram os argumentos dos municípios, das famílias, dos professores. O processo avançou ainda na gestão do referido ministro David Justino, continuou com a ministra Maria de Lurdes Rodrigues e prossegue (até quando?) com Nuno Crato.
Se, no início, havia a ideia de ir encerrando progressivamente escolas, com menos alunos, piores acessos e menos equipadas, só à medida que se iam construindo ‘Centros Escolares’ alternativos, de dimensão e condições superiores e ainda servidos por transportes escolares condignos, neste momento chegou-se ao ponto de muitas das escolas destinadas a acolher os alunos provenientes das escolas encerradas terem piores condições do que estas.
Critérios? Parecem ser casuísticos e fora do domínio público. As verdadeiras razões ministeriais estão à vista: concentrar o maior de alunos num menor número de escolas, quaisquer que sejam as condições, reduzir o número de professores e de funcionários auxiliares e centralizar cada vez mais os processos de decisão, enfim, simplesmente reduzir os custos, de qualquer maneira.
O Bloco de Esquerda, assim como combaterá o encerramento de escolas sem critério pedagógico explícito e válido, não defende a manutenção de escolas com frequência escassa de alunos e com condições precárias de funcionamento. Contudo, nestes casos, exige a participação concertada das populações e dos órgãos autárquicos na criação de alternativas de melhor qualidade em termos físicos e pedagógicos e de comodidade. A deslocação para localidades vizinhas tem que ser ponderada e assegurada em boas condições de segurança.
Como estão longe as primeiras décadas do século XX! Por esses anos, na imprensa local e regional, era comum noticiarem-se as aberturas de novas escolas, muitas delas em edifícios adaptados e cedidos por particulares. Após a implantação da República e enquanto o Estado Novo não fez regredir as políticas educativas, as escolas nasciam aqui e ali, simultaneamente como instrumentos e sinais do desenvolvimento educativo e cultural das comunidades, mesmo das mais isoladas. Os professores eram bem vindos e, apesar das condições de alojamento e de transporte bastante difíceis, eram calorosamente acolhidos pelas populações que viam neles auxiliares importantes nos seus projetos de ascensão social e de realização humana.
Em contraste com esses ‘longínquos’ tempos, hoje vemos um ministério a fechar escolas sem alternativas de melhor qualidade que as substituam, a despedir professores, a precarizar relações laborais e a destruir infraestruturas e património das comunidades que levaram décadas a erguer. Tudo isto quando nunca pagámos tantos impostos e quando nunca o Estado foi tão predador dos cidadãos! Se as entidades internacionais do setor vão fazendo subir os níveis de aprendizagem esperados das crianças e jovens escolarizados – e ainda bem! - exige-se um cada vez mais elevado investimento na educação. O futuro digno das nossas sociedades está seguramente em risco!
Coimbra, 9 de Julho de 2014 José João Lucas