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Um arguido no espaço que não será um astronauta

Enquanto está a decorrer o processo de seleção de astronautas da ESA(link is external)iniciado em 2021 através do qual Portugal poderá ver finalmente selecionado @ primeir@ astronauta português(esa), Mário Ferreira, igual a si próprio, antecipou-se ao processo e pagou um bilhete num voo parabólico da Blue Origin para chamar a si o título de primeiro astronauta português.

Os voos oferecidos a turistas espaciais pela Blue Origin de Jeff Bezos são voos parabólicos de 11 minutos, durante o qual a cápsula não entra em órbita, descrevendo uma parábola que ultrapassa os 100 km de altitude. Até dezembro de 2021, os humanos que voaram acima da linha de Kármán, a 100 km de altitude, linha acima da qual se convencionou ser espaço (onde as asas de um avião já não funcionam) recebiam da Federal Aviation Administration (FAA) as Asas de Astronauta. A partir de 2022, a FAA estabeleceu novos critérios para atribuir as asas de astronauta que excluem os turistas espaciais dos atuais voos parabólicos da Blue Origin.

A definição de astronauta passa a obedecer a novos critérios em conformidade com a lei internacional, excluindo turistas espaciais e oportunistas comerciais. Um astronauta deverá ser uma pessoa que i) viaja num veículo no espaço; ii) realiza atividades para benefício e interesse de todos os países; iii) representa a humanidade no espaço. Esta definição respeita o Tratado do Espaço Sideral e promove a cooperação internacional na exploração científica do espaço, para fins pacíficos e para benefício da humanidade, negando o estatuto de astronauta a todos os indivíduos cujas atividades espaciais tenham em vista apenas o seu próprio benefício.

Se a Mário Ferreira estará justamente vedado o título de astronauta, já o título de arguido ninguém lhe tira, graças às negociatas empreendidas no offshore de Malta. Ao contrário das cândidas afirmações que proferiu em entrevista recente sobre este tipo de atividades em Malta, a realidade é que sabemos que este offshore tem consequências nefastas nas economias dos restantes países da UE e que, por exemplo, levaram ao assassínio em 2017 da jornalista maltesa Daphne Caruana Galizia cujo trabalho de investigação questionava a legitimidade deste tipo de atividades.

 

Publicado em Esquerda.net a 26 de julho de 2022