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Trumps daqui

No Alfa entre Lisboa e Coimbra, num daqueles dias em que todo o tempo da viagem ia ser dedicado ao trabalho, eis que uma conversa entre respeitáveis senhores se entranha no meu teclado. “Isto agora já não é como era, se fosse um militar a dirigir o país não havia dívidas, nem crise”.

Veio-me à memória as duas intervenções do FMI durante os mandatos do General Ramalho Eanes ou o Almirante Américo Thomaz que pouco se ralou com a sangria da emigração dos anos 60 e 70 ou com o atraso da nossa escola, preferia ir à caça, dizia-se que era bom caçador.

Os referidos senhores ganharam confiança e aumentaram o volume da conversa para se certificarem que toda a carruagem os ouvia. “Isto o problema é que as universidades estão cheias de esquerdalhada”. Não sei se estão, mas estão incomparavelmente melhores do que no tempo destes senhores.

Continuaram: “estamos a ser governados por estas tipas do Bloco e por um monhé”. Quando ouvi “monhé” segurei-me à cadeira, lembrei-me de todas as pessoas que dependiam do meu trabalho, se me levantasse a discussão iria durar até Coimbra, não valia a pena.

Segundo os apoiantes de Trump, ele é o único que diz o que pensa, que ousa empregar palavras fortes. Mas, o problema é que Trump tem preguiça para pensar e mesmo dizendo o que pensa inunda de ignorância o seu discurso. Quanto a palavras fortes, “monhé” ou outras, é simples, chama-se falta de educação.

Publicado no Diário as Beiras - 16 de junho de 2016