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Sobre o fanatismo

Encontro-me em Praga, cidade onde Jan Hus foi ordenado padre, em 1400. Hus foi confessor da rainha da Boémia e lecionou na Faculdade de Teologia. Jan Hus viria a ser condenado à fogueira, em 1415, após se ter insurgido contra os privilégios da Igreja e por se ter batido pela difusão popular da palavra de Cristo, pela missa em checo e pela tradução da Bíblia.

Apesar de morto, as suas ideias inspiraram a insurreição contra a Igreja e o aparecimento dos hussitas. Este período da história deixou um lastro anticlerical duradouro na sociedade checa. Hoje, franceses e checos são os povos da Europa com maior percentagem de ateus.

Em Bruxelas, assistimos a mais um episódio de fanatismo assassino, depois dos atentados na Turquia, Nigéria, Síria, Tunísia, França ou Rússia. Aqui não há atenuantes possíveis.

A cimeira Bush-Blair-Aznar-Barroso foi um tremendo erro histórico, mas não pode servir de atenuante para o fanatismo que o Estado Islâmico impõe na Síria e exporta para África e Europa. Essa cimeira faz parte de outro debate. Este fanatismo, com erros históricos ou sem erros, já estava implantado no terreno.

Numa sociedade laica, não é admissível que um cidadão seja morto por um idiota acreditar em algo que não existe. O ensino da ciência e do espírito crítico continuam ofuscados pela difusão religiosa e isso é uma das coisas que tem que mudar, tanto aqui, como na Turqui ou na Síria.

Publicado no Diário As Beiras – 24 de março de 2016