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Profissionais da mentira (fake news)

O profissionalismo da mentira instalou-se confortavelmente nas redes sociais. É indubitavelmente mais fácil exercer influência em meios comunicação onde, em geral, não existe um jornalista ou um profissional para verificar a veracidade e a origem da informação. Aqui os grupos económicos que detêm jornais, rádios e televisões têm uma grande dose de culpa, ao terem reduzido as redações e institucionalizado o precariado entre os jornalistas.

Este profissionalismo da mentira, as chamadas “fake news”, obteve os seus sucessos mais mediáticos nas eleições presidenciais americanas, no referendo do Brexit e nas eleições presidenciais brasileiras. Em todos estes casos verificamos que existe um padrão ideológico bem vincado que vai desde o autoritarismo à extrema-direita.

Os sítios internet baseados no Canadá de notícias falsas sobre a atualidade portuguesas, geridos por João Rosas Fernandes, foram denunciados recentemente pelo Diário de Notícias. Mas sítios de notícias falsas, como o russo Sputnik, são geridos por regimes autoritários com objetivos muito precisos que vão desde o branqueamento das atrocidades cometidas por estes regimes até à intromissão no quotidiano político das democracias e à tentativa de falsear os respetivos atos eleitorais.

Aliás, através destes meios e da cadeia Russia Today, Putin tem tentado apoiar os partidos de extrema direita europeia como a Frente Nacional de Marine Le Pen ou a Liga Norte de Matteo Salvini, com o objetivo de desagregar a Europa e retirar-lhe poder de influência no mundo.

Uma das especialidades destes sítios internet é a negação de factos científicos, como as alterações climáticas ou o Big Bang, bem como a difusão de mitos e de teorias da conspiração. Muito recentemente, os negacionistas das alterações climáticos estiveram muito ativos depois da passagem do furacão Leslie. 

As caixas de comentários das redes sociais das localidades da Região Centro, da Figueira da Foz, em particular, foram abundantemente carregadas com comentários e ligações para sítios de notícias falsas onde basicamente se negava a existência das alterações climáticas, sem o mínimo de respeito pelas vítimas e pelas perdas causadas pela tempestade.

Não se pense que este discurso fica encerrado nas redes sociais e não transborda cá para fora. Nas últimas eleições autárquicas, o cabeça de lista pelo CDS, Miguel Mattos Chaves, negou repetidamente a ciência que fundamenta as alterações climáticas, sem basear a sua argumentação em qualquer trabalho científico.

Cabe aos verdadeiros profissionais da comunicação social, tal como a todos os seus colaboradores, leitores e ouvintes, combater ativamente este fenómeno. A verdade pode ser discutível, mas não pode ser adulterada.

Publicado no  LUX24 - 5 de novembro de 2018