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Pescado low cost

Nas minhas viagens por países costeiros tento provar o pescado local e, se possível, dar um saltinho à secção do peixe de um mercado da terra. Depois de percorrer quase toda a costa mediterrânica do lado europeu, a costa atlântica francesa, belga e holandesa, salta aos olhos o baixíssimo preço do peixe nos nossos mercados e restaurantes.

Na Grécia, na Croácia, na Sardenha e na Córsega, nunca se respeitaram quotas de pesca e o mar foi esvaziado de peixe. Por aqueles lados, só há crustáceos, peixe congelado importado e, pontualmente, peixe capturado a grande profundidade. Uma dourada de aquacultura, pouco maior que uma sardinha, é vendida num restaurante grego a 15€, sem acompanhamento.

Na Croácia, uma dourada congelada e importada é, no mínimo, duas vezes mais cara que as nossas douradas selvagens. Para cúmulo, um conhecido chefe francês declarou ao “Expresso” que os países onde se podia comer peixe com melhor qualidade num restaurante normal é no Japão e em Portugal.

O preço do pescado nacional pode ser explicado, em parte, pelos baixos salários, como se pode constatar no nosso concelho, mas a influência das práticas da grande distribuição é implacável. O low cost, essa grande criação do capitalismo selvagem, onde em nome do preço baixo se empobrecem os setores produtivos e se geram mais pobres, enriquece somente os acionistas dos grandes grupos, secando tudo em volta.

Publicado no Diário As Beiras - 25 agosto de 2016