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O verdadeiro radicalismo

Zurique, janeiro de 2016. Percorro as agradáveis ruas pedonais paralelas ao rio Limmat, apreciando, montra após montra, esplêndidas lojas de vestuário. Numa série de 10 montras, o produto mais barato é um par luvas à venda pela módica quantia de 400 francos suíços, ou seja, cerca de 360 euros. Aqui não se vive acima das possibilidades, vive-se na estratosfera.

Os maiores criminosos do mundo ou têm uma conta na Suíça (método em desuso) ou têm um gestor de fortuna suíço que lava dinheiro através de esquemas complexos, em Singapura, Londres (na City), Hong Kong. E para os clientes com menos glamour, talvez no Panamá, em Miami ou Chipre. São estes que compram luvas a 360 euros.

Por ano, pelo menos 50 mil milhões de euros escapam à tributação dos estados europeus através de esquemas que envolvem paraísos fiscais. Estamos na ordem de grandeza das dívidas dos estados intervencionados pelo FMI. No caso da intervencionada Grécia, a economia foi destruída por governantes em concertação com a Goldman Sachs.

Logicamente, a Goldman Sachs estabeleceu a sua importantíssima filial suíça, em Zurique, muito perto das ruazinhas pedonais com roupa e joias a preços estratosféricos. Nos dias que correm, esta é a maior forma de radicalismo. Os Documentos do Panamá são apenas uma pequena fatia do gigante roubo global que anda a ser sustentado pelos contribuintes dos estados.

Publicado no Diário as Beiras - 14 de abril de 2016