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O “Bergas”

O Bergantim ou “Bergas”, para os amigos, era uma instituição da noite figueirense. Era ali que findavam duras noites de peregrinação pelos estabelecimentos mais animados do Bairro Novo. O “Bergas” nunca foi um primor da decoração, oscilou entre a evocação marítima, fazendo jus ao nome, e a chapa 5 da decoração de interior de discotecas do novo milénio. 

O bar teve os seus altos e baixos, mas, à hora de ponta do “Bergas”, a qualidade da bebida já não estava entre as prioridades da clientela. Bebia-se cerveja cerveja, vodka vodka ou whisky whisky. Só os consumidores de água eram mais exigentes: “água das Pedras, se faxavor”. 

Ao “Bergas” ia-se sobretudo pela música. Tínhamos a certeza que na pista de dança iríamos encontrar o Morrissey, o Robert Smith, o Peter Murphy, a Björk ou a Suzanne Vega. Na pista, havia estilos para todos os gostos. 

Havia os mais expressivos, os que equilibravam um copo de cerveja a noite inteira, a guitarra invisível, mas o estilo mais popular era um jeito melancólico em grande medida inspirado nos vídeos dos The Cure e das bandas de Manchester. Depois desses gloriosos anos, o “Bergas” perdeu-se e fechou.

Recentemente, contaram-me que reabriu e recuperou o ambiente do velho “Bergas”. Sou sempre cético a regressos ao passado. Para cúmulo, temos todos mais 10 anos em cima e em teoria mais juízo. Veremos se a promessa se cumpre. 

Publicado no Diário As Beiras - 6 de outubro de 2016