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Eles

Eles são todos iguais. É inútil redarguir que não, que eles – os políticos – não são todos iguais, que há quem cumpra mandatos para que foi eleito e quem mande sem ter sido eleito, quem cuide do bem comum e quem cure de interesses privados, quem sirva e quem se sirva. É inútil acrescentar que, se fôssemos todos iguais, teríamos os políticos que merecemos, em vez de sofrermos das preguiçosas e irreflectidas opções alheias.

Será menos inútil lembrar que as campanhas contra “os políticos” visam especialmente os deputados de parlamentos e outras assembleias onde as oposições estão representadas e os membros de órgãos a quem cabe o escrutínio do poder e que, de algum modo, podem refrear os exercícios abusivos dos governos (v.g. tribunais de contas e constitucional), esquecendo governantes e assessores – a ascensão de tiranias baseou-se frequentemente em campanhas destas.

Mas, sobretudo, é inútil porque a falácia consiste, desde logo, nessa contraposição entre eles e nós . Ora, sermos políticos é a nossa natureza, Aristóteles definiu o homem como animal político, ser vivendo na pólis (na cidade), em sociedade. Longe de nos sentirmos comandados pelo acaso ou pelo destino temos noção de que as nossas decisões têm consequências na vida coletiva.

Políticos somos nós todos. Quem se abstém ou declara não se interessar por política está a tomar a posição política de permitir ser espoliado da sua soberania, quem não avalia conscienciosamente candidatos e programas em função do bem comum e se deixa enredar na cantilena da ausência de alternativas está a permitir a continuação do desastre ao serviço de interesses estranhos, quem encara com complacência a mentira e a incompetência à espera de umas migalhas é cúmplice da miséria e da injustiça que sofrem os seus concidadãos.

Temos discernimento e capacidade política e, por isso, somos responsáveis pelas nossas omissões e decisões, por nós mesmos e pela comunidade. Em democracia, o exercício da responsabilidade política não se exerce intermitentemente, de x em x anos, pelos poucos minutos que leva traçar uma cruzinha. Se aceitamos que outrem nos represente, temos de acompanhar o trabalho de quem elegemos, apoiar, sugerir, mas também exigir transparência e cumprimento dos programas apresentados a sufrágio. Os políticos eleitos não são tiranos plenipotenciários, eles exercem em nosso nome a soberania que lhes conferimos. Tem-se falado da responsabilidade dos políticos eleitos, mas, não da dos políticos eleitores – que somos todos.

O nosso futuro coletivo depende disso, de despertarmos da resignação fatalista e chorosa e assumirmos as nossas responsabilidades políticas, por nós e por todos.

Independente de Cantanhede, 19 de Junho de 2013