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Da foleirada ao impossível

Recorrentemente, os nossos autarcas optam pelos designados artistas populares para animar as ocasiões festivas. Prefere-se Emanuel a Sérgio Godinho ou a música pimba ao jazz ou à bossa nova. O argumento é sempre o mesmo: dar ao público o que ele gosta. Parte-se do princípio que o público não é inteligente e a resposta é investir na sua estupidificação.

Uma das virtudes da vitória de Salvador Sobral no Festival da Eurovisão foi demonstrar que uma música com excelente qualidade pode vencer simultaneamente no voto dos especialistas e no voto do público. Salvador bateu largamente toda a foleirada presente, que atingiu o seu auge na gritaria tirolesa da interprete romena, bateu todos os artifícios kitsch e bateu a receita sueca (mais sofisticada) aplicada por vários países que contrataram produtores importados da Suécia. Para a lógica dos apologistas do pimba o que aconteceu era impossível: a boa música não tem público e não vende. Salvador deu 100 a 0 à última foleirada que Emanuel enviou para o Festival e que nem as meias-finais passou. Lembram-se da Lua que era do luar?

Aproximam-se as eleições autárquicas. Estou para ver as lindas bandas sonoras que vão acompanhar o inevitável porco no espeto nos arraiais dos partidos do arco do poder. Depois venham-nos falar em exigência e seriedade. Vivam os manos Sobral!

Publicado no Diário As Beiras - 18 de maio de 2017.