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50 Anos da Apollo XI

Amanhã vão fazer 50 anos que foi lançado de Cabo Canaveral o foguetão Saturno V, projetado por Wernher Von Braun, transportando Neil Armstrong, Michael Collins e Edwin Aldrin. Quatro dias depois, a 20 de julho de 1969, a Apollo XI aterraria na Lua e pela primeira vez o ser humano caminharia noutro corpo celeste para além da Terra.

Esta extraordinária viagem ocorreu graças a 400 mil mulheres e homens e a um financiamento público que chegou perto dos 5% do PIB americano nos anos anteriores à Apollo XI.

Aqueles pequenos passos na Lua, trouxeram gigantescos benefícios para a humanidade. O sistema GPS que hoje utilizamos quotidianamente foi desenvolvido para encontrar os astronautas no Oceano Pacífico. Materiais e vestuário à prova de fogo e ferramentas sem fios beneficiaram de um desenvolvimento extraordinário graças ao programa Apollo. Termómetros a infravermelhos e sistemas de diálise portáteis contribuem hoje para o nosso bem-estar, graças aos sistemas de apoio desenvolvidos para os astronautas.

Apesar de na altura se ter julgado que se seguiria o natural estabelecimento de uma base na Lua e uma ida a Marte se concretizaria até ao final do século, a verdade é que 50 anos depois não temos nenhum lançador como o Saturno V, capaz de transportar três astronautas até à superfície da Lua e trazê-los de volta à Terra. Foram apenas construídos 11 Saturnos V tenho sido utilizados na totalidade com sucesso.

Atualmente, apenas a cápsula Soyuz de fabrico russo tem capacidade para levar humanos para o espaço. Mas pior que a questão dos lançadores é falta de financiamento das diversas agências espaciais. Os orçamentos da NASA, da ESA, da Roscosmos, da JAXA ou do programa espacial chinês, estão muito aquém do que seria necessário para voltarmos à Lua ou sonharmos numa viagem a Marte. Os orçamentos de empresas privadas como a Space X ou a Blue Origin são ainda mais limitados

Entretanto, durante as últimas décadas, a humanidade desperdiçou muito mais dinheiro do que o Programa Apollo em guerras inúteis, a salvar bancos ou a reparar os estragos do desregulamento do setor financeiro. Se nos quisermos lançar a Marte e prosseguirmos o caminho da exploração espacial que nos colocará uma série de desafios ao nosso engenho, criatividade e capacidade de nos organizarmos, teremos que fazer escolhas muito claras sobre atividades potencialmente nocivas como as guerras ou o capitalismo financeiro selvagem. Ou continuamos a desperdiçar as nossas energias nestas atividades ou escolhemos alargar os nossos horizontes científicos, tecnológicos, culturais e societais.

Publicado em LUX24 - 15 de julho de 2019