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2017

Ainda criança, apaixonei-me pela ficção científica. Não falhava as séries de televisão como o "Espaço 1999" ou o "Caminho das Estrelas". Lia tudo o que apanhava de Júlio Verne. Mais tarde, maravilhei-me, no cinema, com "Abismo Negro", "Tron", "Flash Gordon" e, obviamente, com a "Guerra das Estrelas". 

Percorri jornais de banda desenhada, como o Jornal do Cuto, o Jornal da BD, as revistas Marvel e a Echo des Savanes. Descobri Moebius e Bilal. Os desenhos do francês Jean Giraud, ou Moebius para os amigos dos quadradinhos, saltaram para a tela em "Alien o 8º Passageiro" e ainda hoje influenciam a ficção científica. "Prometheus" dá continuidade ao seu universo. 

A ficção científica foi uma grande escola de tolerância. Aqueles seres bizarros de todas as cores e feitios, com três olhos, cabelo azul, de biquíni ou de traje militar, tudo se misturava tão bem. Imaginava assim o futuro, esse mágico ano 2000 que estava para chegar. 

Aterra-se em 2017 e um racista assume a presidência dos EUA. No Reino Unido, a xenofobia torna-se moeda corrente. Na Turquia, na Rússia, na Polónia e na Hungria dão-se largos passos em direção ao passado. Na Holanda, em Itália, na Áustria e em França populismos nacionalistas ganham força. 

Até à esquerda há quem queira substituir o internacionalismo pelo patriotismo de esquerda. O cenário é digno de um álbum Bilal, mas não desmobilizaremos, cá estaremos para mais um ano de luta.

Publicado no Diário As Beiras - 29 de dezembro de 2016.