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Troika: Há dois anos e meio a criar excêntricos em Portugal

No ano passado eram 785, este ano são 870. Têm em comum uma fortuna superior a 30 milhões de dólares (perto de 25 milhões de Euros). São 0,009% da população. Mais do que milionários, são ultra-milionários. Portugal é hoje um país mais pobre e mais desigual, mas com mais ultramilionários.

Muita da riqueza "fugiu" do país nos últimos dois anos e meio. O PIB encolheu 6%, há mais 300 mil desempregados, mais de 350 pessoas emigram a cada dia que passa. O país sob intervenção é este. Um país onde o verdadeiro ajustamento é feito por via do massacre salarial e dos bens públicos, a par da concentração de riqueza.

A crise poderia ter sido uma oportunidade para repensar o modelo de desenvolvimento desgraçado que nos trouxe até aqui, para propor um novo contrato social. Mas assim não foi. A crise está antes a ser usada como uma oportunidade para repor os lucros.

A entrada da Troika em Portugal, a conivência e a subserviência do governo português e as sucessivas medidas adotadas fizeram com que, no nosso país, sejam precisos cada vez mais pobres para "produzir" um rico. Escrevia Almeida Garrett, há bem mais de um século: "Andai, ganha-pães, andai; reduzi tudo a cifras, todas as considerações deste mundo a equações de interesse corporal, comprai, vendei, agiotai. No fim de tudo isto, o que lucrou a espécie humana? Que há mais umas poucas dúzias de homens ricos".

Assim vamos indo em Portugal. Não é por exagero nem por figura de estilo que nos tempos que correm se cita Almeida Garrett. É mesmo porque ao fim de dois anos e meio de intervenção da Troika, o único indicador que sem sombra de dúvida saiu valorizado foi a concentração de riqueza.

Há 870 portugueses que estão agradecidas à Troika. Mas destas, há 85 que estão muitíssimo agradecidas porque, no último ano, tiveram a oportunidade das suas vidas, coisa que nunca teriam se Portugal fosse, já não digo um exemplo de justiça social, pelo menos um país normal.

As Beiras”, 9 de Novembro de 2013