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Secar saúde, transportes e investigação

António Costa tem dado sinais fortes de que a austeridade baseada no desinvestimento público veio para ficar e durar. O estado a que chegou o Serviço Nacional de Saúde, as carências graves que estão a alastrar por alguns dos hospitais públicos do país e a descontinuidade de serviços essenciais são já impossíveis de camuflar. Mais grave é a porta que o governo está a abrir a grandes grupos financeiros que se instalaram no setor da saúde e cujos principais objetivos não são o bem-estar da população. 

Estes grandes grupos não são instituições privadas como as misericórdias e as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), que reconhecidamente, melhor ou pior, têm como objetivo último contribuir para a saúde e o bem-estar da comunidade. Estes grupos financeiros querem ter lucro, o maior lucro possível e o mais rapidamente possível. A saúde da comunidade é secundária. O desinvestimento na saúde praticado por este governo é o presente mais desejado por estes grupos que se instalaram no negócio da saúde.

No setor dos transportes continua tudo na mesma, basta passarmos meia hora numa gare da Linha do Norte para constatarmos o estado das composições e dos serviços na estação. Recentemente, foram anunciados parcos investimentos na ferrovia, mas por exemplo a ligação ferroviária entre a Figueira da Foz e a Pampilhosa do Botão ficou de fora, impossibilitando uma ligação direta ferroviária para comboios de mercadorias entre o porto comercial da Figueira e Vilar Formoso. 

Mas o caso mais grave é a estratégia de serviços TAP, em particular a nova política de categorias de preços mais elevados, mas com serviço igual ao low cost, que tem levado sistematicamente os voos da TAP a apresentarem quase metade dos lugares vazios. Esta nova política comercial da TAP tem sido considerada por muitos especialistas como uma estratégia propositada para levar a companhia à falência ou para a levar a graves dificuldades financeiras que permitam a sua aquisição ou desmantelamento por outros operadores privados.

A política científica pública tem sido alvo de rudes golpes do Ministro da Ciência. Estes golpes passam pelo desinvestimento nas carreiras científicas, pela diminuição drástica dos concursos de projetos em todas as áreas ou ainda pelos esquemas de desinvestimento das instituições científicas, curiosamente acompanhados de proclamações e de truques ilusórios no sentido do aumento do investimento, mas que na prática só têm estrangulado as universidades e os centros de investigação. 

Um ministro tão fraco não tem o direito de realizar uma avaliação extremamente severa dos seus doutores como a realizada no último concurso para contratação de doutores, com seis meses de atraso, onde apenas 8% obteram os contratos de seis anos, também estes com um grau de precariedade a termo.

Publicado em LUX24 - 9 de dezembro de 2019